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A construção das relações sociais e afetivas da juventude atual

Convivendo em ambientes educacionais, ao longo dos anos, tenho presenciado mudanças significativas na juventude. Ao tempo em que muitos jovens são dóceis, inteligentes, criativos, perceptivos; outros são agressivos, impulsivos, indomáveis. Estes últimos têm atitudes selvagens, mesmo quando freqüentam uma escola. Um caso a ser observado é o comportamento de estudantes, na escola Humberto Soares, bairro José Augusto. Muitos cometem barbáries nos arredores da escola, provocando verdadeira desordem pública, trazendo intranqüilidade aos moradores. Eles perturbam a vida das famílias, nas casas vizinhas. Quebram a harmonia, atentam contra a cidadania das pessoas.

Em meio a tanta insensatez e ao pouco caso dos organismos educacionais, indago-me se não é chegada a hora de o sistema educacional promover mudanças capazes de modificar as atitudes desses jovens? Creio que a educação brasileira — baseada em princípios lineares e tendo os currículos e seus conteúdos assentados em processos intelectuais e cognitivos – deveria se preocupar, também, com os fatores emocionais da juventude. Pois, afinal, quem vai oferecer trabalho a um jovem que não sabe se comportar socialmente e tão pouco lidar com as emoções?

Essa preocupação não nasce nessa reflexão. Existem importantes estudos sobre a temática, como, por exemplo, o livro “Inteligência Emocional”, do psicólogo e PhD Daniel Goleman. Ali ele aponta a inteligência emocional como a maior responsável pelo sucesso ou insucesso das pessoas. Então, como pode a escola ficar distante desse processo de formação, preparação para a vida?

De outra parte, observa-se que a maioria das situações de trabalho exige relacionamentos entre as pessoas. E aquelas com maior capacidade de convivência com outras, dotadas de afabilidade, compreensão, gentileza e educação, terão maiores chances de obter sucesso no trabalho e na vida. Por isso tudo fico convencida que a escola não pode ficar eqüidistante desse processo de formação humana. Ela terá que se envolver na construção das relações sociais e afetivas da juventude, considerando que elas são as responsáveis pelo sucesso das profissões e ofícios. Pois ninguém, em nenhuma parte do mundo, deseja lidar com pessoas desajustadas, agressivas ao meio social. Logicamente gente assim não arruma trabalho e também não traz harmonia ao ambiente onde vive.

E se assim é, como pode a escola, na educação brasileira, alhear-se desse processo de formação, ajustamento, adequação, lapidação do ser humano? É tarefa urgente e inadiável trabalhar algumas habilidades emocionais, ainda mais aquelas consideradas importantes para que uma pessoa alcance seus objetivos, seja feliz e obtenha sucesso na vida. Dentre elas, deverão fazer parte da grade curricular o controle do temperamento, adaptabilidade, persistência, amizade, respeito, sociabilidade, amabilidade e empatia. Ainda, deverá a escola trabalhar junto aos alunos:

  1. Reconhecer emoções nos outros – empatia: saber se colocar no lugar do outro. Perceber o outro. Captar o sentimento do outro. Os problemas devem ser resolvidos através de conversas claras.
  2. Habilidade em relacionamentos inter-pessoais – aptidão social: A arte dos relacionamentos deve-se, em grande parte, saber lidar com as emoções do outro. Saber trabalhar em equipe é fundamental no mundo contemporâneo.

Percebe-se que tão importante quanto os conteúdos para a formação básica (intelecto e cognição) “educar” as emoções é fazer com que os alunos também se tornem aptos a lidar com frustrações, tristeza, alegria, raiva, decepção, negociar com outros, reconhecerem as próprias angústias e medos, lidar com os desafios da vida sem demolir o que está em volta.

Nessa tarefa especial, uma das premissas básicas é a necessidade de o professor vir a desenvolver, também, a sua inteligência emocional. Pois aquilo que o professor ensina em sua prática docente está embebido por sua própria personalidade. Logo a inteligência emocional do professor é uma das variáveis para que ele lide com os jovens, ensinando-lhes novos conteúdos, novos comportamentos e atitudes. Todavia não deve ser tarefa solitária, antes um dever do Estado, uma obrigatoriedade curricular que possa ensejar a todas as pessoas a oportunidade de serem felizes.

A educação brasileira não pode perder de vista que as emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando idéias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem conduzidos, transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tornando-se, aí sim – virtudes. E esse trabalho não pode deixar de ser uma tarefa da escola, na construção da cidadania brasileira.

 

DICAS DE GRAMÁTICA

ELE FOI MULTADO PORQUE INFLINGIU A LEI DE TRÂNSITO ou PORQUE INFRINGIU A LEI DE TRÂNSITO, PROFESSORA?

– Infringir significa transgredir, violar, desrespeitar. Logo o que ele fez foi “infringir a lei do trânsito”. Então, se o motorista fez isso, infringiu a lei do trânsito, o guarda pode aplicar a multa, ou seja, infligir a multa ao motorista.

POSSO FALAR EM SUPERIOR E EM INFERIOR, POSSO DIZER QUE SOU SUPERIOR DO QUE ELA?

Nem brincando com ela! Prefira dizer a assim:

Sou superior a ela, e não inferior a ninguém.

Este produto é superior ao nosso, mas inferior ao deles.

Superior e inferior também não aceitam mais e menos: mais superior, menos inferior.

O ATACANTE É UM GRANDE FINALISTA OU O ATACANTE É UM GRANDE FINALIZADOR, PROFESSORA?

– Olhe, entendo pouco de futebol, todavia tenho em mim que o jornalista desejou dizer que o “atacante é um grande finalizador”. Explico: finalista deverá ser o time do jogador, se chegar campeão ao final do campeonato. O jogador, o atacante que finaliza as jogadas, é um finalizador, quando faz gol. Quando não faz a torcida diz que ele é outra coisa…

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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Professora do Curso de Jornalismo – IESACRE.

 

 

 

 

 

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