– Você torce pro São Paulo e ela pro Santos.
Protestos
– Torce sim!
Ouvimos a Lalá e eu esse diálogo hoje pela manhã. Era um homem que conversava com dois cachorros. Foi o são paulino que protestou latindo. Os três na esquina da Angélica, esperando o sinal abrir enquanto discutiam convictos suas preferências futebolísticas. Só a do Santos aceitou o destino como óbvio, até fazer que sim com a cabeça deve ter feito.
– Bom dia, Carla
– Porra, Jefferson
Esse foi na Pizzaria. Eram 12h03. A gente chegou cedo pra almoçar, mas parece que Jefferson atrasou. Tudo indica que não é do feitio dele, uma vez que o reconhecemos na plaquinha de funcionário do mês. Ou talvez seja mesmo um desleixado que se dá bem com o gerente, não sei. Mas assim, eram 12h03 ainda. Três minutos. Porra, Carla.
– Como acabou?
– Senhora, o queijo de cabra será reabastecido amanhã. Peço desculpas pelo inconveniente.
– Tá vendo? O desabastecimento já é uma realidade. É isso que dá votar errado.
Da pizzaria a gente foi no super e ficamos com essa pérola aí. O desabastecimento do queijo de cabra no St Marche do Pátio Higienópolis, do domingo pra segunda, como retrato da democracia. Tás vendo? Saiu batendo salto e dizendo que é por essas e outras que está tirando o passaporte português. “Por essas e outras, querida”.
Lembrei de um curso que me chamou atenção essa semana. Gosto tanto de fazer um cursinho, me enrolo na agenda, fico morta de cansaço, gasto mais do que devia. Mas, pra mim, não tem nada mais delícia nessa vida – fora férias, fora festa, fora um show ao vivo e todo o mais, digo no esquema segunda à sexta, horário comercial – do que fazer curso. Pode ser de qualquer coisa. Mas enfim, era um curso de criação de personagem – Do nascimento à intuição, como pensar com a cabeça de um outro. Quase me inscrevi. Mas depois de hoje, pensei um pouquinho melhor, com a minha cabeça mesmo. Brincadeira, deve ser ótimo, é que o Brasil já tem um monte de personagem pronto, né não? Eu cruzo com pelo menos meia dúzia por dia, é só atentar e tomar nota. Ótima semana, queridos. E se vocês não andam se achando muito bons de cabeça, se aperreiem não. Ninguém tá, viu?