Para celebrar seus 35 anos de fundação, a SOS Amazônia inaugura um viveiro de produção de mudas de espécies florestais, frutíferas e palmeiras com a proposta de fortalecer suas atividades de restauração florestal. O Viveiro SOS Amazônia será inaugurado nesta sexta-feira, 29, às 8h, em Capixaba, no Acre (BR-364, Km 61, mais 4 km no Ramal dos Arinos) e contará com a presença de colaboradores, comunitários e parceiros na construção do viveiro, como a The Caring Family Foundation e a Stanley.
“É a realização de um sonho”, define Adair Duarte, coordenador de Restauração Florestal da SOS Amazônia.
O tradicional desenlace de fitas, que comumente marca qualquer inauguração, será substituído pelo plantio de espécies nativas da Amazônia, como andiroba, castanheira e seringueira, que serão plantadas por parceiros financiadores e colaboradores da SOS Amazônia. A programação também inclui uma apresentação artística com o cantor e compositor Alberan Moraes, que traz em suas composições elementos da cultura acreana.
O viveiro terá capacidade inicial de produzir 450 mil mudas por ano, entre espécies florestais (andiroba, castanheira, copaíba, cumaru, ipê, mogno, mulateiro), frutíferas (acerola, graviola, cacau, café, ingá) e palmeiras (açaí, buriti, jaci e jarina), que serão destinadas à recuperação de áreas degradadas com a implantação de agrofloresta.
A SOS Amazônia tem a proposta de recuperar mil hectares até 2025, com o plantio de um milhão e seiscentas mil mudas, beneficiando diretamente 800 famílias extrativistas e de agricultores familiares. “É um trabalho de formiguinha, que a SOS Amazônia realiza em passos lentos, seguros e responsáveis, a fim de aumentar nossa capacidade de restauração, ampliar o número de famílias envolvidas e atrair novos parceiros nessa missão”, conta Adair.
O plantio de árvores contribui para a manutenção de diversos serviços ecossistêmicos, como a recuperação e o enriquecimento dos nutrientes do solo, o sequestro de carbono para liberação do oxigênio, a regulação do ciclo hidrológico e a revitalização de nascentes. Além disso, um ambiente reflorestado proporciona bem-estar e qualidade de vida para a população. “Plantar uma árvore é sempre um gesto de cuidado com o planeta e uma tentativa de semear um futuro melhor, mitigando os efeitos das mudanças climáticas”, acredita Álisson Maranho, secretário técnico da SOS Amazônia.
Todos os parceiros da SOS Amazônia ligados ao programa de restauração florestal contribuíram para a construção do viveiro, em especial a fundação britânica The Caring Family Foundation, Stanley e Nike, que possibilitaram a aquisição e regularização do terreno, construção da estrutura física do viveiro e a compra de insumos, substratos e equipamentos.
Patricia Caring, co-fundadora da The Caring Family Foundation, ressalta que o desmatamento afeta a biodiversidade e a própria subsistência de comunidades tradicionais. “Famílias lutam para sobreviver diante dos desafios das mudanças climáticas, mães precisam alimentar seus filhos e comunidades correm o risco de extinção. Nosso trabalho na região busca apoiar diretamente os meios de subsistência das populações locais. Isso significa que eles podem cultivar, produzir e gerar renda para suas famílias, tendo a chance de prosperar”, pontua Patricia.
Estrutura
O Viveiro SOS Amazônia está construído em uma área de três hectares e conta com um prédio de 200 metros quadrados, que inclui sala técnica, cozinha e alojamento masculino e feminino, ambos com capacidade de hospedar de seis a oito pessoas. Também possui um depósito, onde são armazenados os insumos, substratos, fertilizantes, bandejas, tubetes, ferramentas e equipamentos.
O viveiro possui dois reservatórios com capacidade de armazenar 20 mil litros de água e um sistema de irrigação automatizado, que pode ser programado de acordo com a estação do ano e a necessidade das mudas. “O sistema pode acionar três vezes ao dia para irrigar um bloco de mudas que está em germinação para suprir a necessidade daquelas sementes ou permanecer ligado por um determinado período para irrigar um conjunto de mudas em desenvolvimento, que precisa de uma quantidade maior de água”, explica Sidomar Falcão, coordenador do viveiro.
Todos esses detalhes garantem a qualidade e a padronização das mudas, com desenvolvimento similar e controle de pragas e doenças. “As mudas que saírem do nosso viveiro têm um rigor de qualidade e estão dentro dos padrões técnicos, o que é fundamental para que elas tenham uma produtividade melhor no futuro”, assegura Sidomar.
O Viveiro da Floresta, sob gestão do Governo do Acre, e o Viveiro Rioterra, em Rondônia, serviram de referência e fonte de consulta para os técnicos da SOS Amazônia, com visitas de acompanhamento e atividades de formação. “Com a inauguração do nosso viveiro, a SOS Amazônia também passa a ser uma referência de produção de mudas em escala a partir desse ano no estado do Acre”, avalia Adair Duarte.
Viveiros comunitários
O Viveiro SOS Amazônia vai produzir 50% da demanda do programa de restauração florestal da ONG. A outra metade virá dos 36 viveiros comunitários espalhados no Acre e no município de Guajará, no Amazonas. Eles foram construídos para facilitar a logística em locais de difícil acesso e empoderar as famílias para que elas possam ter condições de ampliar suas áreas de restauração.
“A SOS Amazônia oferece suporte e orientações técnicas, mas as famílias são as grandes protagonistas porque se envolvem diretamente em todo o processo. São elas que coletam as sementes, produzem as mudas e levam para o plantio em campo”, conta Elizana Araújo, engenheira florestal e assistente de projetos na SOS Amazônia.
O objetivo é diversificar a produção da unidade familiar com espécies de interesse ecológico e econômico, possibilitando a comercialização do excedente em feiras locais. Por isso, o modelo de agrofloresta proposto pela SOS Amazônia valoriza a produção de espécies frutíferas, como acerola, cacau silvestre, café conilon e graviola. “Toda a produção oriunda dos sistemas agroflorestais tem garantia de comercialização com a Cooperacre e as cooperativas locais, principalmente no território do Alto Acre e Capixaba”, ressalta Adair.
Faça Florescer Floresta
Criado em 2019, o projeto Faça Florescer Floresta promove a recuperação de áreas degradadas, incluindo o entorno de nascentes, com a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), isto é, o cultivo consorciado de espécies florestais, frutíferas e de palmeiras de interesse ecológico e econômico.
A recuperação de áreas degradadas, conforme a densidade do plantio, comporta de mil a duas mil e quinhentas espécies por hectare. O trabalho de restauração é realizado em estreita parceria com os beneficiários do projeto, residentes em comunidades ribeirinhas e extrativistas, projetos de assentamento e Unidades de Conservação. “Nós buscamos identificar as espécies em potencial em cada comunidade, de modo a garantir a subsistência e a segurança alimentar das famílias”, diz Elizana Araújo.
Além das espécies florestais, as famílias podem incrementar os SAFs com a inserção de espécies agrícolas, como milho, feijão, banana e macaxeira. “As espécies agrícolas anuais produzem primeiro e oferecem benefícios ecológicos, como a fixação de nitrogênio no solo. Também funcionam como adubação verde e, no momento posterior, as outras espécies florestais dominam o ambiente”, explica a engenheira florestal.