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Homem branco é suspeito de agredir criança brasileira negra em Portugal

Produtor belga Marc Van Eyck é suspeito de cometer racismo Imagem: Reprodução/Instagram/@marcvaneyck

Um homem belga branco é suspeito de agredir e acusar injustamente uma criança brasileira negra de roubar um cartão de crédito durante um festival de música em Lisboa, Portugal.

A família da menina afirma que 40 pessoas testemunharam o caso que ocorreu no último dia 28.

O que diz a mãe da criança

A menina de 8 anos brincava com uma amiga quando passou a ser seguida pelo produtor musical belga Marc Van Eyck. Ao UOL, a mãe da criança disse que foi comunicada pela outra criança e por um garçom sobre o ato racista.

Saí em busca da minha filha, gritando seu nome entre os galpões do espaço, até que ouvi seu choro e gritos pedindo por mim em uma das salas. Quando entrei, vi um homem ao seu lado. Ele a teria perseguido por um tempo e a segurado com força pelos braços.Mãe da criança vítima de racismo

A mãe relata ter ouvido o suspeito acusando a criança de ter roubado um cartão da sua carteira. O belga só teria mudado o tom de voz quando o pai da menina chegou ao local — ele era um dos palestrantes do evento.

“Ele teria achado que foi roubado por crianças de 5 e 8 anos se elas não fossem negras?”, questiona a mãe da vítima. UOL optou por não divulgar o nome da mulher para não facilitar a identificação da criança envolvida.

O suspeito teria dito que não imaginava que a criança era filha de um participante do evento, mas, sim, de uma dessas “ciganas que roubam em eventos”. O UOL procurou o produtor belga e também a polícia de Portugal, mas não teve retorno.

No evento, a polícia ouviu testemunhas e escoltou o suspeito para sair do local. A família diz que não recebeu apoio das autoridades de Portugal e busca justiça.

“É muito triste saber que uma criança de 5 anos e outra de 8 não podem ser crianças se têm a pela negra. Pois se correm, são confundidas com ladras, coisa ouvida da boca do belga pelo dono do evento”, disse a mãe da vítima.

Repúdio

Nas redes sociais, a organização do festival repudiou o caso racista e afirmou que os “procedimentos legais possíveis estão em curso”. A mãe da criança afirmou que o diretor do evento tem dado apoio e foi uma das testemunhas, já que presenciou o ato racista.

Movimento Negro de Portugal cobrou ações do governo português para reconhecer o racismo nas ações contra a criança. Quase 200 pessoas assinaram o texto em apoio.

Exigimos que o Estado português, designadamente o sistema de justiça, reconheça a motivação racial desta agressão. Exigimos que, de uma vez por todas, abandone um entendimento legal “minimalista” sobre o que se entende por racismo. Exigimos que rompa com o padrão de negação do racismo que tanto prejudica a vida das nossas crianças e jovens e a vida democrática deste país.Carta do Movimento Negro de Portugal

Família diz não ter acesso à denúncia

Desde o início da semana, a família tenta ter acesso ao registro da queixa, o que seria o boletim de ocorrência no Brasil. Pela legislação de Portugal, o documento fica disponível dois dias após o registro — tempo que expirou, já que o caso ocorreu na semana passada.

“Todos os lugares em que eu vou me mandam fazer outro procedimento”, disse a mãe da criança. Ela contou que procurou a Secretaria Estadual de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEIRDH) do Pará para encaminhar o caso ao governo federal brasileiro. A pasta paraense informou o UOL que “formalizou o ocorrido junto ao Ministério das Relações Exteriores, uma vez que existem entraves burocráticos” e “também comunicou o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania e Ministério da Igualdade Racial sobre o fato”.

O Itamaraty afirmou ao UOL que tem conhecimento do episódio. Por meio do consulado-geral de Lisboa, o órgão declarou que “permanece à disposição para prestar à família a assistência consular cabível ao caso, que tem sido tratado pelas autoridades portuguesas”. O Ministério das Relações Exteriores disse que mais detalhes não seriam repassados para garantir o direito à privacidade.

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