Desde a descoberta que o planeta anão Ceres abriga substâncias orgânicas complexas, cientistas buscam entender sua origem. Este conhecimento, somado às evidências de que maior objeto no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter tem água gelada em seu interior, representa a possibilidade de encontrar por lá vida extraterrestre ou compostos essenciais para isso.
Desde 2017, alguns estudos concluíram que um cometa ou outro objeto de impacto rico em orgânicos levou essas moléculas a Ceres, enquanto outros indicaram que esses compostos foram formados no planeta anão após seus materiais primordiais serem alterados por água salgada.
Porém, independente da origem, já se sabe que os produtos orgânicos de Ceres foram afetados de alguma pelos impactos que marcam sua superfície, como mostrou a missão Dawn, da Nasa, encerrada em 2018.
Foi justamente o que ocorreu neste mês, quando um grupo de cientistas indicou resultados otimistas em apresentação na conferência GSA Connects 2023, da Sociedade Geológica da América.
“Os compostos orgânicos foram inicialmente detectados nas proximidades de uma grande cratera de impacto, o que nos motivou a olhar para como os impactos afetam esses orgânicos. Estamos descobrindo que os orgânicos podem ser mais difundidos do que relatado anteriormente e que eles parecem ser resistentes a impactos com condições semelhantes a Ceres”, diz Terik Daly, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Johns Hopkins e líder do estudo, em comunicado da GSA.
Cruzando dados
Tais análises do novo estudo só foram possíveis graças a Daly, que sabia que Ceres é coberta por crateras de impacto de diferentes tamanhos formados de colisões de outros asteroides. Ele só não compreendia como esses impactos afetavam os compostos alifáticos (cadeias de carbono e hidrogênio).
O líder do estudo conta que, diferente de sua equipe, pesquisas anteriores não realizaram experiências baseadas em substâncias orgânicas detectadas em Ceres, utilizando o mesmo tipo de método analítico da sonda Dawn, permitindo assim comparações diretas entre os dados de laboratório e da espaçonave.
A equipe ainda conduziu uma nova análise que combinou dados da câmera e do espectrômetro de imagem da sonda Dawn, usando um algoritmo para estimar as informações de composição do espectrômetro até a resolução espacial mais alta da câmera.
“[Isso] proporcionou uma nova vantagem em nossa busca para mapear e compreender a origem de orgânicos em Ceres”, ressaltou Jessica Sunshine, astrônoma da Universidade de Maryland.
Resultados animadores
Analisados em conjunto, os resultados da equipe apontam para alguns resultados “potencialmente animadores”, escreveu a GSA.
“Capitalizando os pontos fortes de dois conjuntos de dados diferentes coletados sobre Ceres, conseguimos mapear potenciais áreas orgânicas ricas em Ceres em maior resolução. Podemos ver uma correlação muito boa de orgânicos com unidades de impactos mais antigos e com outros minerais como carbonatos que também indicam a presença de água”, animou-se Juan Rizos, astrofísico do Instituto de Astrofísica da Andaluzia, na Espanha, e pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Maryland.
Ele complementa dizendo que, embora a origem dos compostos orgânicos encontrados no planeta anão ainda não sejam muito compreendida, “agora temos boas evidências de que eles se formaram em Ceres e provavelmente na presença de água”.
Existe a possibilidade de que um grande reservatório interior de orgânicos possa ser encontrado dentro de Ceres. Então, do meu ponto de vista, esse resultado aumenta o potencial astrobiológico de Ceres, afirmou Rizos.
Os pesquisadores estão agora com expectativas para comparar os resultados obtidos pela missão Lucy, que teve sonda lançada há dois anos e fará seu primeiro sobrevoo agora em novembro. Esta missão pretende buscar “fósseis” no Sistema Solar.
Jessica faz parte dessa missão e já pensa em como aplicar os resultados do estudo atual aos asteroides que Lucy vai estudar nas proximidades de Júpiter: “Provavelmente vamos encontrar diferenças, [mas] as comparações com Ceres nos ajudarão a entender a distribuição de orgânicos no sistema solar exterior”.