“Uma tristeza imensa de ver.” É assim que a professora Inês Alencar, 40 anos, se sente ao ver as imagens de centenas de pirarucus, botos e outros animais que passaram a aparecer mortos à beira dos rios do Amazonas. Os animais estão morrendo em decorrência da seca histórica que o estado vem enfrentando desde setembro – o que fez o governador Wilson Lima (União-AM) decretar estado de emergência em 55 dos 62 municípios do estado.
“Sabemos que tem regiões no interior do Amazonas onde não se consegue nem sair para pescar. Ver essa mortandade de peixes é angustiante, diante de uma realidade em que muitas famílias estão passando necessidade”, diz Inês a Marie Claire, que vive com a mãe, o irmão e o filho na comunidade Tumbira, zona rural do município de Iranduba.
O sentimento de pesar também é compartilhado pela gestora de logística Geyce Ferreira, 30 anos, que vive na capital, Manaus: “No Amazonas, os rios são o que pautam nossa vida, seja locomoção, abastecimento e diversão. É impactante demais olhar para a beira e ver apenas lama.”
Inês e Geyce são duas dos milhares de amazonenses afetados pela estiagem, a mais severa desde a última seca histórica, que aconteceu em 2010. Trata-se ainda da seca mais severa em 40 anos. Além do Amazonas, Pará, Roraima e Acre também atravessam um período crítico de seca, muito mais intenso do que o esperado anualmente – Rio Branco, capital do Acre, também decretou situação de emergência.
O estado do Amazonas passa pelo chamado verão amazônico (que normalmente dura entre agosto e outubro). Neste ano, as temperaturas batem quase 40º C e o período de queimada intenso, que impactam a saúde e o cotidiano. O resultado mais intenso está diretamente ligado aos efeitos das mudanças climáticas – em especial do fenômeno El Niño, que elevou o calor e umidade em pontos do planeta e deve atingir seu pico em dezembro.
A estiagem é esperada em todos os anos, o que faz com que a população se prepare para o período. Mas, em 2023, não teve como: os rios estão secando mais cedo e mais rapidamente do que de costume. Com baixos níveis de chuva e uma temperatura excessivamente alta, a falta de perspectiva de normalização preocupa residentes.
A ativista socioambiental e comunicadora cabocla ribeirinha Odenilze Ramos, 26 anos, explica que, neste ano, os rios começaram a secar de maneira drástica em setembro. Para se ter ideia, ela conta que os rios Negro e Solimões estão secando aproximadamente 30 centímetros por dia neste período. “O impacto das outras secas era muito menor porque eram normais. Agora, aconteceu rápido demais: o que levaria seis meses para o rio secar, aconteceu em dois, três meses.”
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Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo