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Aos 93 anos, acreana desafia a passagem do tempo ao criar miniaturas com riqueza de detalhes

Do lixo ao luxo. É assim que a acreana Rosalina Montenegro, mais conhecida como Rosinha, descreve seu trabalho de confecção de miniaturas com objetos reciclados. Aos 93 anos de idade, ela mostra que envelhecer pode ser, além de privilégio, uma arte, conforme canta o sambista Adoniran Barbosa.

E por falar em música, Rosinha recebeu A Gazeta do Acre em sua residência, no Bairro Capoeira, em Rio Branco, ao som de Nelson Gonçalves, um de seus compositores preferidos. Lá, ela apresentou cada uma de suas pequenas criações, que impressionam pela riqueza de detalhes.

Objetos são confeccionados com material reciclado – Foto: Fábia Montenegro

Um palco em homenagem às duplas sertanejas, com cadeiras, violão e microfone, feitos com papelão, linhas e tampinha de garrafa, retrata sua paixão pela música. Ornamentada com palitos de picolé, a casinha do líder seringueiro Chico Mendes, por quem nutre grande admiração, mostra o respeito ao meio ambiente, que dá o tom e o ritmo de sua arte.

Carroças feitas com fios elétricos, panelinhas preparadas com latas de cerveja e enfeites de parede com barbante e garrafas PET também estão no acervo artesanal da jovem senhora, que não gosta de desperdiçar nada. “Aproveito tudo e, às vezes, tiro coisas do lixo já pensando na utilidade que terão no meu trabalho”, conta.

Carroça feita com pote de margarina, fios elétricos e barbante – Foto: Acervo Pessoal

A lista de objetos reciclados é grande e conta também com CDs, potes de sorvete e margarina, latas de leite em pó, embalagens de amaciante, caixa de ovos, tecido e até grampo de roupas. Para a confecção, ela usa como instrumentos de trabalho uma tesoura, linhas, faca de cozinha, cola, tintas, entre outros.

“Meu espírito é de criança. Acho que por isso crio tudo com muita facilidade. Às vezes chego a sonhar com um objeto e depois vou lá e faço”, afirma. Questionada sobre qual é sua criação preferida, ela responde: “gosto de todas!”.

Dona Rosinha Montenegro – Foto: Fábia Montenegro

Apesar de não serem criados para essa finalidade, os objetos podem ser comprados diretamente com Rosinha e seus familiares. Ela tem uma página no Instagram (@oficina.damamys) onde expõe sua arte e explica o processo de confecção.

Como tudo começou

Engana-se quem pensa que Rosinha nasceu com o dom do artesanato. Na verdade, tudo começou há pouco tempo, mais precisamente em 2019, durante a pandemia de coronavírus, que obrigou a humanidade a se trancar em casa.

Parte do acervo artesanal de Rosinha – Foto: Fábia Montenegro

Reclusa por ser do grupo de risco, ela começou a se sentir “pra baixo” e precisou pensar em uma atividade caseira para se entreter. Assim, nasceu o interesse pela confecção de miniaturas, que logo depois virou a Oficina da Mamys, tendo a família como grande apoiadora.

“Nós incentivamos tudo o que faz com que ela se sinta viva, em prol de sua saúde física e também mental”, explica a filha e psicóloga Fábia Montenegro, que administra o perfil no Instagram, por onde os objetos podem ser encomendados.

Família foi a grande incentivadora da Oficina da Mamys – Foto: Leandro Chaves

Filha de pernambucanos que vieram para o Acre no início do século passado, Rosinha nasceu em 1930, em Rio Branco, estudou até a quarta série e tinha o sonho de ser costureira, o que explica, talvez, a habilidade com as mãos que desafia a passagem do tempo.

Viúva há mais de 50 anos, ela criou quatro filhos, e parte de sua descendência tem forte veia artística. “Não vou parar. Gosto de trabalhar e essa atividade veio para ficar”, finaliza Rosinha.

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