Enquanto você lê este conteúdo, mãos delicadas e solidárias costuram, no Acre, dezenas de absorventes de pano, que serão doados, no primeiro semestre de 2024, para mulheres das periferias, indígenas, extrativistas e privadas de liberdade.
Coordenada pelo coletivo acreano Mãe da Mata, a confecção e posterior doação de mais de mil desses itens acontece em parceria com o Mulheres em Movimento, que financia o projeto – aprovado em edital – com recursos internacionais.
“Não será uma simples doação. A gente vai desenvolver também questões de empoderamento e liberdade por meio de rodas de conversa sobre educação menstrual, por exemplo”, explica a empreendedora Iwlly Cavalcante Silva, de 29 anos, idealizadora da Mãe da Mata.
A confecção dos absorventes de pano acontece na casa de Iwlly e de sua tia, que nunca havia costurado o item e precisou aprender sozinha. “Toda a parte de pesquisa e testes foi feita por nós”, ressalta a também engenheira florestal e ativista socioambiental.
A Mãe da Mata, que, em setembro, completou quatro anos de existência, se destaca por ser uma das primeiras empresas no estado a trabalhar, exclusivamente, com produtos ecológicos e feitos com matéria-prima nacional. Formado apenas por mulheres, o coletivo tem em seu DNA o modelo empresarial ESG, que tem como nortes questões ambientais, sociais e de governança.
“Quando fundei a Mãe da Mata, estudei o que é consumo consciente e construí o coletivo com essa base. Quatro anos depois, ainda estamos na ativa e isso é uma grande vitória, pois, no Brasil, a maioria das empresas fecha as portas antes desse tempo”, lembra a ativista.
Para além dos negócios
A Mãe da Mata mantém uma loja virtual onde comercializa, entre outros produtos, fraldas e bolsas ecológicas, produtos de higiene, coletores menstruais, higienizadores íntimos, protetores para seios, além dos absorventes de pano. A ideia da empresa é estimular o uso de produtos sustentáveis e combater a pobreza menstrual que afeta milhares de mulheres no Acre.
A atuação vai além dos negócios. Desde que surgiu, em meados de 2019, o coletivo desenvolve várias ações sociais. A primeira delas foi a doação de mais de 3 mil fraldas ecológicas em parceria com outra marca nacional.
A entrega de absorventes de pano não é novidade. Ao longo dos últimos quatro anos, moradoras de aldeias indígenas no Acre e mulheres imigrantes que viviam na fronteira do Acre com Peru e Bolívia já receberam o produto. Além disso, o coletivo agiu em ações emergenciais, com doações de sacolões.
“É um trabalho incrível, e serve também para que as pessoas entendam que é possível ter uma empresa com preocupações ambiental, social e de governança coerentes com o momento em que estamos vivendo”, reforça Iwlly, que começou sozinha, aos 25 anos, e conseguiu, em pouco tempo, reunir uma rede de mulheres colaboradoras.
No início deste ano, o coletivo ganhou, ainda, um prêmio da Ambev de inclusão produtiva, que tem possibilitado a consolidação de sua cadeia de produção e a ampliação de suas ações. “A Mãe da Mata é esse potencial todo. A gente tem pretensões futuras para estarmos em outros locais e com outras vendas e processos. Somos essa empresa que passou dos quatro anos e é comandada por uma mulher jovem, que é mãe solo e lida com muitos percalços”, finaliza Iwlly.