A seca severa que castiga os rios da Amazônia não é apenas um problema ambiental, mas também de saúde pública. A morte de peixes, provocada pelo baixo nível das águas e o aumento das temperaturas fluviais, contamina os mananciais e põe em risco a saúde dos indígenas e ribeirinhos que bebem dessas fontes.
É o que alerta o sertanista aposentado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), José Carlos Meirelles, 75 anos. Em vídeo gravado nesta sexta-feira, 6, ele explica que o baixo volume dos rios faz com que a concentração desses dejetos na água aumente consideravelmente, o que pode provocar infecções intestinais, desidratação e outros problemas de saúde em quem a bebe.
Ele ressalta que outro fator que aumenta a contaminação dos mananciais são as fezes de anta, animal que costumar fazer suas necessidades nos rios. “Poucas pessoas sabem, mas as cabeceiras de alguns rios não são muito boas de vertentes, e algumas vertentes estão secando e o pessoal tá tomando água do rio. Aí tem peixe morto, fezes de anta… Quando tem muita água, tudo bem, mas quando tem pouca água isso vai se concentrando”.
Ele relata que o problema já vem acontecendo nas cabeceiras dos rios Envira e Tarauacá, no interior do Estado, onde há registros de desidratação, por exemplo. “Queria fazer um apelo ao povo competente que mexe com esse assunto para ficar alerta. Porque essas coisas não são brincadeira. Tem muito índio nessas cabeceiras de rio, além de ribeirinhos e povos isolados”.
Meirelles, que trabalhou por mais de quatro décadas nas florestas do Acre, reforça que a circunstância é preocupante. Nesta sexta, o governo do Estado decretou situação de emergência. O decreto, já em vigor, vale por 90 dias e tem como justificativa a redução dos níveis dos rios Acre, Purus, Juruá, Tarauacá, Envira, Iaco e Moa.