Uma nota de repúdio assinada por sete entidades locais insinua que o senador Márcio Bittar, do União Brasil, agiu de forma racista ao votar a favor de uma emenda para acabar com as cotas raciais e para pessoas com deficiência em institutos e universidades federais.
A emenda é de autoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o parlamentar acreano é aliado de primeira linha.
O documento considera “inadmissível” que um senador eleito por um estado onde sete em cada dez pessoas se autodeclaram pretas ou pardas (classificadas como negras pelo IBGE) se posicione contra as cotas raciais.
“Inadmissível, porém perfeitamente ‘compreensível’ por inúmeros motivos, sendo certamente um dos principais o racismo. O racista não é só aquele que ofende, que joga uma banana no estádio, que xinga, mas é também aquele que oportunamente assina embaixo com o sistema opressor”, diz o comunicado.
As entidades defendem que as cotas precisam continuar a existir porque o país “tem uma dívida histórica com a população negra”. No Brasil, afrodescendentes viveram quase 400 anos sob um violento regime de escravidão, que deixou, até hoje, profundas cicatrizes sociais. A ideia das cotas, portanto, seria romper com esses grilhões estruturais.
“Entender isso é fundamental para que pessoas como o senador Márcio Bittar percebam seu lugar de privilégio e, a partir desse lugar, lutem por políticas de ações afirmativas que se baseiem no princípio da equidade e da justiça social, levando em conta principalmente a distância de oportunidades educacionais perpetuadas pelo racismo”, continua a nota.
O comunicado cita ainda uma frase da célebre filósofa negra brasileira Djamila Ribeiro: “Ser contra as cotas raciais é concordar com a perpetuação do racismo”.
Assinam o documento o Fórum Permanente de Educação Étnico-Racial do Estado do Acre (FPEER), Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Acre (Coepir), Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), Associação de Mulheres Negras (AMN), União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e Federação das Religiões de Matriz Africana do Acre (Feremaac).
Lei das Cotas
Criadas no governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT), as cotas raciais completaram 10 anos e, conforme determina a lei, precisaram ser revisadas, ocasião em que 24 senadores de direita aproveitaram para fazer suas investidas contra a política, por meio de emendas. Nenhuma delas foi aprovada. Márcio Bittar foi o único senador do Acre e apoiar o fim das cotas.
Após uma década, as cotas raciais mudaram a cara e a cor das universidades e institutos federais por todo o Brasil, proporcionando ascensão educacional, profissional e social de toda uma geração de jovens negros e periféricos, hoje inseridos no mercado de trabalho em profissões historicamente ocupadas por pessoas brancas.