O ex-secretário de Direitos Humanos do governo Gladson Cameli (PP), Lauro Santos, se manifestou, em declarações à imprensa, contra a ação civil pública que pede a anulação de homenagens no Acre a figuras ligadas à Ditadura Militar, regime que prendeu, torturou e assassinou opositores.
Movida pelo Ministério Público Federal (MPF), a ação pede que o Estado mude o nome de endereços, prédios e instituições públicas que homenageiem agentes que tiveram relação, direta ou indireta, com o governo de exceção instalado à força no Brasil a partir de 1964.
Lauro é neto de uma das mais importantes figuras históricas do Acre, José Guiomard Santos, que, na época, foi um entusiasta da queda do então presidente do Brasil, João Goulart, do PTB, partido rival da sigla à qual era filiado, o PSD.
Por causa disso, as homenagens a seu avô, que morreu em 1983, aos 75 anos, viraram alvo do MPF. Atualmente, Guiomard dá nome a um município acreano e a um bairro em Rio Branco.
“Fico preocupado, estarrecido e triste ao ver medidas de um órgão tão importante como o MPF querer desconstituir a história do estado, de pessoas que construíram o Acre, a exemplo do meu avô, que fez reforma agrária, lutou pelos direitos dos acreanos terem sua independência financeira, administrativa e política. Quando que um ditador vai querer tomar medidas nesse sentido?”, disse, ao site AC24Horas.
Ele ressalta que a ação civil pública desrespeita não apenas o avô e família, mas também a história do Acre.
Guiomard Santos
Nascido em Minas Gerais, Guiomard governou o então território federal do Acre entre 1946 e 1950. Foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos, ocupando cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília, entre 1951 e 1962, pelo PSD. Foi ele o autor do projeto de lei que elevou o Acre à categoria de estado. Ainda em 1962, foi eleito senador da República, cargo que ocupou até sua morte.
O historiador Francisco Bento da Silva, em seu artigo “O golpe militar de 64 no Estado do Acre, Brasil: denuncismo, fragilidade democrática e hipertrofia do executivo”, também recorre à conjuntura política local para explicar o posicionamento pró-ditadura de Guiomard.
Ele escreve que a deposição, pelos militares, do primeiro governador eleito democraticamente no Acre, José Augusto, do mesmo partido do ex-presidente João Goulart, interessava a Guiomard Santos, que havia perdido a eleição direta para governo que ele mesmo pavimentou ao tornar o Acre estado.
“No caso acreano, o golpe militar veio antecipar, de forma prematura, aquilo que as forças oposicionistas, principalmente ligadas ao PSD, não tinham conseguido: abreviar o governo de José Augusto. Por isso, estas forças são desde o primeiro momento entusiastas do regime de exceção instalado no país e no Acre em 1964”.