Esses dias, sonhei com a minha vó. Chegava bem pertinho de mim e dizia mesmo assim: “o mar dela nunca se conjugará no passado, ainda mais no imperfeito”. Acordei meio contente pela sensação de visita, meio intrigada pela mensagem. Passou-se.
Já faz um tempo que, todo dia, no primeiro segundo do dia, alcanço o telefone e registro o sonho da noite anterior, como fiz com esse do meio/meio. Digito uma palavra que me sirva de título e mando um áudio com voz de sono pro grupo que mantenho comigo mesma no WhatsApp.
Ontem, saímos pra jantar. Era o fechamento das comemorações de aniversário da Sofi. Fez uma noite linda em São Paulo. Tava quente, muito quente, as ruas cheias. Chegamos já na sorte de uma mesa que tinha acabado de vagar. A mesma mesa que sentamos uma vez, o pai delas e eu, quando ainda nem namorávamos. A aniversariante pegou o lugar no sofazinho onde sentou a Roberta de quase 25 anos atrás.
Lembro dessa noite assim no detalhe porque quando me encolhi pra passar pela mesa vizinha, derrubei um saleiro de vidro no chão. O restaurante inteiro parou para olhar de onde vinha o barulho. Fiquei envergonhada mas, ao mesmo tempo e com a mesma intensidade, imaginei o banho de sal que tomei quase que como uma benção. Terei sorte pro resto da vida e de muito.
Pois que na noite passada, sonhei com Sofi e com sal, dunas e dunas de sal. Eu e ela correndo pelas montanhas branquinhas, mergulhando no mar que as rodeava. Acordei com uma sede que experimentei poucas vezes na vida.
Antes de ser Sofia, Sofi era Maria. Seria uma homenagem à minha avó. Faltava pouco tempo pra ela nascer, quando mudei de ideia. Tive um medinho de chatear vovó, mas ela recebeu a notícia da troca com a alegria e o amor que eram só dela: “Sofia, que nome lindo!”
Sofi acaba de fazer 15 anos. Só hoje, quando escrevi ‘Sal e mar’ antes de gravar meu áudio, entendi o recado do sonho que registrei como ‘Maria e mar’. A data do registro era de 3 de novembro, dia exato do aniversário daquela cujo mar nunca se conjugará no passado, ainda mais no imperfeito. Sofia é água forte, muita água. Água transformadora que segue pra frente, que ocupa tudo, que é profunda e profícua. Feliz aniversário para minha Sofi que foi abençoada pela bisavó de quem não herdou o nome, mas a alegria, o amor e a sede de vida. Tenho muita sorte de estar na mesma praia que ela. Sal danado de auspicioso. Boa semana, queridos.