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Caso Sophia: perícia revela rotina de violência que ia de castigo a chicotadas

Castigo e chicotadas. Um relatório elaborado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a partir da troca de mensagens entre Christian Campoçano Leitheim e Stéphanie de Jesus, suspeitos de matar Sophia Jesus Ocampo aos 2 anos, evidencia a rotina de violência.

Em setembro, o Gaeco assumiu a missão de desbloquear o aparelho dos réus após despacho feito pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande. O g1 teve acesso ao documento que revela sessões de torturas e até ameaças feitas pelo padrasto sobre “quebrar o pescoço” da menina e dar “chicotadas cabulosas”.

Nas conversas, marido e mulher revelam uma série de agressões e ameaças não só a Sophia, mas também ao irmão mais velho dela, filho de Christian, de 5 anos. Em uma das mensagens apresentadas no documento, o padrasto conta que bateu de cinto em Sophia: “foram chicotadas cabulosas”.

Christian descreve que uma das agressões aconteceram porque a menina não queria comer, sendo colocada em pé em volta do carrinho do outro bebê até que comesse. A mãe de Sophia responde: “deixa ela sem comer, deixa passar fome” e o padrasto afirma que vai fazer ela comer: “ela vai comer, vai comer, está de palhaçada comigo”.

Ele ainda diz: “Eles apanharam de cinto hoje, eu não vou nem fazer questão de encostar a mão, vai apanhar só de cinto agora. Só que foi umas chicotadas cabulosas (risos) estralou, sem ser o cinto de couro. Se fosse o cinto de couro essa hora estava até sangrando com as chicotadas que eu dei neles”.

No dia 16 de novembro de 2022, o próprio padrasto nota que a menina está com a boca sangrando e com um galo na cabeça depois de mais uma sessão de espancamento. No mesmo mês, a mãe pergunta se o marido mordeu Sophia. “Mordi ela. Mas esse foi quando a gente tava brincando. Sabe que não controlo a mordida, ela é macia demais”.

O documento ainda apresenta mensagens trocadas pelo casal no dia em que Sophia foi levada sem vida para um posto de saúde da cidade. As mensagens reforçam a tentativa de Stéphanie em encobrir as agressões ao perguntar ao marido o que deveria falar com a polícia, a resposta deixa claro a vida de violência da pequena. “Fala que se machucou no escorregador do parquinho, igual da outra vez”.

Stephanie e Christian estão presos preventivamente desde 26 de janeiro pelos crimes de homicídio qualificado e estupro de vulnerável.

O caso

Sophia Jesus Ocampos, de 2 anos, morreu no dia 26 de janeiro de 2023. Ela foi levada já sem vida pela mãe à UPA do Bairro Coronel Antonino. Segundo o médico legista, o óbito havia ocorrido cerca de sete horas antes.

Em depoimento, a mãe confirmou que sabia que a menina estava morta quando procurou a unidade de saúde. O laudo de necropsia do corpo da menina, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia foi estuprada.

A declaração de óbito aponta que a causa da morte foi por um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica. O documento ainda diz que a menina sofreu “violência sexual não recente”.

As idas de Sophia à unidade de saúde eram frequentes. O prontuário médico da menina consta que ela passou por 30 atendimentos médicos em unidades de saúde da capital, uma delas por fraturar a tíbia.

Igor de Andrade, companheiro do pai da menina, relatou ao g1 que eles tentaram conseguir a guarda da criança, mas um dos impedimentos seria a homofobia por parte da mãe da vítima. Na casa onde a criança morava, bitucas e caixas de cigarro foram estavam espalhadas na varanda. Havia também garrafas de bebidas alcoólicas.

G1

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