As eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Acre (Ufac) acontece no próximo dia 6, no começo do mês de dezembro, e, devido a isso, os alunos têm se movimentado e se organizado em diferentes chapas para concorrer à liderança do local, que é responsável por representar os estudantes em diversos âmbitos. Entretanto, durante as visitas realizadas por um grupo de alunos em uma das turmas, fazendo a divulgação de candidatos, aconteceu um suposto caso de transfobia.
Uma acadêmica do curso de Nutrição fez comentários considerados ofensivos em suas redes sociais, que teriam sido direcionados para Morgana Café, uma aluna travesti do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, que pertence a uma das chapas concorrentes. Café diz que, ao entrar na sala de aula, já era possível perceber “olhares de desdém” contra ela, o que a incomodou. Mas o maior choque, segundo ela, foi quando lhe encaminharam imagens de uma publicação feita nas redes sociais.
Na postagem, uma aluna de Nutrição disse: “o preço que eu pago por ouvir, ler e ver é grande viu?!”. A declaração teve como referência o uso de linguagem neutra utilizados no panfleto distribuído. Ela completou a publicação dizendo: “fui obrigada a sair da sala para usar o meu réu primário em um caso mais extremo”.
A suposta vítima comentou o caso: “Me mostraram de manhã cedo e eu nem liguei, só passei o olho, mas aí depois me mandaram um print, numa conversa privada, e eu fiquei em choque que distorceram o que eu falei e ainda higienizaram minha imagem. Foi algo nojento, violento e baixo”.
Morgana também ressalta que o impacto foi ainda maior por ter vindo justamente de outra mulher, e que ela deveria ter mais consciência do que é sofrer preconceitos. “Teve (um impacto maior), pois foi uma pessoa de um grupo minoritário em relação a direitos e me impactou alguém que faz parte de uma minoria fazer um discurso de ódio e propagar nas redes”, disse ela, sobre os comentários feitos no Instagram.
Ao ser perguntada sobre as ações que pretende tomar, Café diz que irá conversar com a ouvidoria da Ufac para abrir uma denúncia contra a aluna de Nutrição.
O Centro Acadêmico do curso da autora do post supostamente transfóbico se pronunciou através das redes sociais, disse que não compactua com as ações da estudante e que é inadmissível que a orientação sexual ou identidade de gênero de um grupo permaneçam sendo motivos de violências.
“É urgente combater a transfobia em um país que ocupa 1º lugar no ranking mundial dos assassinatos de pessoas trans e travestis, durante os últimos 14 anos. Pesquisas realizadas em 2019 denunciam que 99% da população LGBTQIA + afirmaram não se sentirem seguras no país e que diariamente onze pessoas trans são agredidas no Brasil. A expectativa média de vida de travestis e transexuais é de apenas 35 anos, contra 75 do restante da população”, diz trecho do pronunciamento.
A reportagem tentou contato com a estudante de Nutrição, que não quis se pronunciar sobre o assunto.