Em alusão ao Dia Nacional da Poesia, comemorado na última terça-feira, 31 de outubro, o A Gazeta do Acre publica, ao longo da semana, versos de cinco autores locais como forma de homenagear os fazedores da sexta arte. A série se encerra com a poesia “Correnteza”, de Kika Sena.
Correnteza
Um soco de ar me atravessa o peito
lá pelas quebradas de marechal deodoro
bem no meio do Rio Mundaú.
Quando me afogava no rio
uma mão me puxou pra cima
interrompendo a asfixia
e dizendo:
Peguei! Peguei!
Naquele instante me senti pescada,
quase pulei de volta pro rio
pra ser menos gente e mais peixe
mas minha mãe não quis
nem a minha outra mãe
nem a outra.
Sobre a poetisa
Kika Sena é atriz, arte-educadora, diretora teatral, poetisa e performer. Graduada em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB) e mestra em Teoria em Prática das Artes Cênicas pela Universidade Federal do Acre (Ufac), Kika desenvolve pesquisas nas áreas de gênero, sexualidade, raça e classe.
Desde 2015, estuda a área de voz e palavra em performance com cunho político referente ao corpo da mulher trans e travesti na cena teatral e social brasileira.
É autora dos livros “Marítima” (2016) e “Periférica” (2017). Sua publicação mais recente é a zine “Subterrânea”, de 2019. Dirigiu espetáculos teatrais, entre eles “Transmitologia”, e fez sua estreia no cinema como protagonista no filme “Paloma” (2022), de Marcelo Gomes.
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Confira a primeira poesia da série – “Dos sinais”, de Quilrio Farias;
Confira a segunda poesia da série – “Poema pra não te esquecer”, de César Félix;
Confira a terceira poesia da série – “Do que me adianta ser mulher”, de Natielly Castro;
Confira a quarta poesia da série – “Cemitério de sonhos”, de Roberta Marisa.