“Estou vendendo almoço para comprar janta”. O relato indignado da lojista Graça Alves, dona de um estabelecimento de roupas no Mercado do Bosque, em Rio Branco, mostra a situação que os permissionários do local têm vivido nos últimos dias com a evasão de clientes após uma trabalhadora do entorno morrer por complicações causadas pela “doença do pombo”.
As redondezas do espaço costumam atrair, em grande quantidade, as aves, cujas fezes podem transmitir doenças, entre elas a criptococose, que levou à morte, na semana passada, Sandra Silveira Bezerra, de 49 anos. O proprietário da loja onde Sandra trabalhava também foi diagnosticado, mas, felizmente, não teve o mesmo destino da funcionária.
“Ela era uma grande amiga nossa”, lembrou Miriam Alves de Almeida, que vende, no mercado, o tradicional prato feito, entre outros alimentos. Durante a entrevista, em pleno horário de pico, às 13h, apenas uma mesa do estabelecimento estava ocupada – mas não por clientes, e sim por uma trabalhadora do quiosque, em sua pausa para o almoço.
“Nossas vendas caíram muito nos últimos dias. Tá todo mundo com medo dessa tal doença do pombo. Às vezes aparecem clientes, mas eles chegam, encomendam o almoço pra viagem e rapidamente vão embora”, disse a permissionária, que implora à prefeitura por providências.
Os lojistas e permissionários denunciam que, até o momento, o poder público não fez a limpeza e a sanitização do espaço, além de outras providências para afastar os animais.
“Quem vinha comer aqui, muitas vezes acabava passando na minha lojinha e assim eu faturava. Mas, depois da morte dessa mulher, ficou complicado de vender minhas roupas”, lamenta dona Graça Alves, do início da matéria. “Todo mundo se afastou, sabe?”, completa.
A reportagem procurou a prefeitura de Rio Branco para saber quais providências estão sendo tomadas para evitar novas contaminações, mas, até o fechamento deste conteúdo, não obteve resposta. O espaço continua aberto para esclarecimentos.
Doenças do pombo
Por ser uma ave que perambula pelo chão e se alimenta de restos de comida, muitas vezes estragada, o pombo ingere microorganismos como fungos e bactérias, que acabam indo para suas fezes. Em tempos secos, os dejetos dessas aves endurecem e, com o vento, pequenos poros se espalham no ar e são inalados por humanos, o que pode provocar infecções.
Nem todas as doenças causadas nesse processo são mortais, mas, sem os cuidados devidos, elas podem ser graves, como aconteceu com a trabalhadora que morreu na semana passada.
Entre as enfermidades estão a meningite, salmonelose, ornitose, histoplasmose e criptococose. O uso de máscaras ao adentrar em locais com grande presença desses animais ajuda a evitar a inalação dos poros infecciosos.