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Pesquisa da Ufac identifica fungos que combatem as larvas de mosquito da dengue

Mosquitos de Aedes aegypti são vistos no laboratório da Oxitec em Campinas (Foto: Reuters/Paulo Whitaker)

Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) identificou um jeito natural de combater o Aedes aegypti: fungos. Três espécies da Amazônia são capazes de eliminar as larvas do mosquito causador de doenças como dengue, zika e chikungunya. O estudo foi publicado em 27 de outubro na revista científica Brazilian Journal of Biology.

A descoberta pode auxiliar a reverter os altos índices dessas doenças no país, em especial a dengue. Apesar de haver uma vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra a enfermidade, ela ainda não foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Nativas da Amazônia, 23 espécies de fungo foram coletadas pelos pesquisadores para selecionar aqueles com potencial entomopatogênicos no Aedes Aegypti. Essa é uma característica que consiste na parasitação de insetos, causando a morte ou a incapacidade desses animais se alimentarem ou se reproduzirem.

Das 23 espécies de fungos analisadas, três demonstraram alto índice de eliminação de larvas do Aedes Aegypti em até cinco dias: Beauveria sp, Metarhizium anisopliae e M. anisopliae. Em condições laboratoriais, as taxas de eliminação das larvas foram de 100%, 80% e 95%, respectivamente.

As larvas foram colocadas em recipientes com água destilada e concentrações de conídios (esporos responsáveis pela reprodução dos fungos), para observar a eliminação dos mosquitos, além de um grupo controle imerso em água estéril.

Os fungos também foram aplicados a óleos minerais e vegetais – de andiroba, castanha-do-pará e copaíba –, para avaliar as taxas de mortalidade das larvas quando em contato com essas formulações. Nesses casos, apesar de apresentar índices menores que no aquoso, o mineral se mostrou como um bioinseticida alternativo, ao prolongar seu efeito no combate aos mosquitos em relação ao vegetal.

Ao analisar a ação dos fungos em condições semelhantes às encontradas nas cidades – criadouros em água parada em caixas d’água e tambores, ralos, garrafas e pneus, por exemplo –, os índices de eliminação de larvas foram diferentes.

A primeira reduziu a taxa de mortalidade das larvas até o quinto dia para 65%, mostrando-se menos eficiente do que em laboratório, mas ainda com um índice elevado, segundo a pesquisa. A segunda manteve o percentual apresentado no laboratório, enquanto a terceira aumentou para 90%. O experimento controle mostrou que, em condições normais, a mortalidade das larvas é de 10% no período.

Uma solução caseira

O uso de fungos nas larvas amazônicas — coletadas próximas a domicílios de Rio Branco, capital do Acre — teve como propósito buscar uma solução local para a incidência de casos das doenças.

Os nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) totalizavam até 26 de outubro, data da última atualização do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde, mais de 75 mil casos de dengue, zika ou chikungunya.

Esse número é impulsionado pelas condições de chuva regional, tendo em vista que a Amazônia conta com um período de chuva demarcado, que costuma acontecer entre dezembro e julho. Isso porque o acúmulo de água parada em recipientes – como vasos de plantas e pneus – promove o aumento populacional dos mosquitos.

Além de ser uma solução regional, o uso dos fungos amazônicos também é uma iniciativa sustentável, como apresentado pelo engenheiro florestal e biólogo Gleison Rafael Mendonça à Agência Bori. Segundo o pesquisador principal, essa é uma forma de não contaminar as águas em que os mosquitos se reproduzem, o que acontece com o uso de inseticidas.

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