O tenente-coronel Mauro Cid teria narrado em sua delação premiada que a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) faziam parte de um grupo de conselheiros radicais que defendia que o então presidente Jair Bolsonaro (também no PL) não aceitasse o resultado das eleições ano passado e desse um golpe de Estado. As informações foram reveladas nesta sexta-feira (10) pelo portal UOL. Os depoimentos de Mauro Cid no âmbito da delação estão sob sigilo e os investigadores buscam meios de comprovar os relatos do militar.
Segundo o portal, o grupo de conselheiros do ex-presidente costumava dizer que Bolsonaro tinha apoio da população e dos CACs (sigla para colecionador, atirador desportivo ou caçador, categorias que tem autorização de portar armas de fogo) para tentar um golpe.
Desde o segundo turno das eleições, um grupo de radicais financiados por empresários apoiadores de Bolsonaro ficou acampado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, em protesto contra o resultado nas urnas. O extenso acampamento, com tendas distribuindo água e comida, serviu de base para os golpistas que participaram do ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro e só foi desmobilizado após os ataques. Além da capital federal, foram organizados acampamentos em frente aos quarteis-generais em todo o país.
Dentre os acampados havia vários CACs e radicais que pregavam abertamente a favor de um golpe. À PF, Mauro Cid afirmou que Jair Bolsonaro não queria desmobilizar os manifestantes golpistas porque acreditava que seria encontrado algum indício de fraude nas urnas, o que serviria para anular o resultado da eleição. Ainda segundo o UOL, Cid diz à PF que nunca foi encontrada nenhuma prova de fraudes.
Um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro durante seus quatro anos de governo, Mauro Cid presenciou de perto vários diálogos do presidente com outros integrantes do governo, aliados e parentes. Em seu acordo de colaboração ele se comprometeu a detalhar o que sabe sobre os interlocutores e as conversas que teria presenciado.
Cid foi preso em maio pela Polícia Federal em uma investigação sobre as fraudes nos cartões de vacinação de Bolsonaro. Ele foi solto em setembro por determinação do ministro Alexandre de Moraes após fechar um acordo de colaboração premiada. Apesar da soltura, Cid ainda tem que cumprir várias restrições, como utilizar tornozeleira eletrônica e a proibição de assumir sua função no Exército e conversar com os demais investigados.
Brasil de Fato