No atual cenário, em que a criminalidade e os desafios sociais são questões, frequentemente, debatidas, a prática esportiva atua como uma ferramenta de transformação e de melhoria da convivência em sociedade. Segundo o Censo 2010 do IBGE, o Brasil tem, atualmente, cerca de 51 milhões de jovens com idades entre 15 e 29 anos. E nesta métrica, o esporte atua diretamente no afastamento de jovens, sobretudo, em situação de vulnerabilidade, a trocarem as más influências pelo desporto educacional, alcançando o desenvolvimento integral do indivíduo e contribuindo para o exercício da cidadania como prática do lazer.
Para a Unesco, a prática esportiva desempenha um papel significativo na diminuição da criminalidade. Através do investimento em programas de educação esportiva, os atletas passam a desenvolver valores como o respeito à ética e à disciplina, e ainda o contam com os benefícios físicos potencializados a cada treino. E esta construção implica diretamente na identidade de atletas habilidosos e cidadãos responsáveis, visto que o impacto positivo proporciona aos jovens a valorização e sensação de pertencimento junto de sua rede de apoio.
Este é o intuito Federação Acreana de Desporto Escolar (Fade), uma entidade privada e de interesse social, cujo objetivo é buscar novos talentos presentes na educação básica e formá-los atletas profissionais nos esportes como handebol, basquete, futsal, xadrez e natação.
Segundo João Renato Jácome, presidente da federação, o impacto é perceptível na vida destes jovens: “investir no esporte é investir no futuro, é economizar em saúde e segurança pública. O papel da federação é formar cidadãos por meio do esporte”, destaca.
Apenas no ano de 2023, a Fade já contemplou cerca de 6.300 estudantes atletas, com projetos como o Open de desporto escolar, reunindo diversas modalidades esportivas com o intuito de buscar novos talentos nas escolas. E o Fade Qualifica, visando graduar os professores de educação física e entusiastas do assunto para melhor execução do projeto. No qual desempenha um papel significativo na redução da criminalidade, fomentando o esporte que incorpora a disciplina e cidadania através da justiça social.
Para a atleta medalhista Ana Cristina Ferreira, que, recentemente, ganhou a medalha de ouro nos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), o esporte representa uma grande jornada de aprendizado, muito além da quadra, sendo um incentivo e instrução de vida, e que influencia até no relacionamento com os pais. “O esporte na minha vida traz o significado de querer continuar em frente e a apoiar outros atletas, pois muitas amizades e sonhos nascem em uma pista de atletismo.”.
Com o apoio destes projetos, é possível proporcionar a nova geração de atletas o aprendizado de novos desafios até sua adaptação em diferentes cenários, sendo possível efetivar a valorização da diversidade e resiliência em equipe que tanto contribuem para a plena execução da vida atlética, numa jornada de autoconhecimento e superação. Até o final de 2023, a federação visa atingir mais de 13 mil jovens no Acre, levando o desporto escolar a alterar não apenas realidades, mas toda uma comunidade, inspirando e transformando.
Segundo o Censo Escolar de 2020, somente 34% das escolas públicas têm quadra de esportes, o que dificulta o fazer esportivo, que, na maioria das vezes, acaba sendo aplicado de forma superficial e sem chance do pleno desenvolvimento das atividades motoras e cognitivas dos alunos. Para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são enumeradas seis modalidades de práticas de atividades corporais ao longo do ensino fundamental, que deveriam ser aplicadas e incorporadas na jornada escolar, são elas:
A informação é confirmada pelo Ministério da Educação (MEC), que reafirma que a prática de esportes ajudam a afastar o adolescente das drogas, evitando até a evasão escolar. Sendo o apoio da prática esportiva, uma das soluções utilizadas para erradicar a maioria dos problemas enfrentados nas escolas. Mostrando benefícios consideráveis nas demandas escolares de alunos da rede pública de ensino. “A curto, médio e longo prazo, nós vemos o nosso impacto na vida destes meninos, e o investimento tem que ser cada vez maior, pois ele [o esporte] é que muda a qualidade de vida das pessoas”, disse o presidente da Fade, João Renato Jácome.
E esta posição é confirmada por uma pesquisa publicada em 2022, pela Universidade Federal de Campinas (Unicamp), o esporte está diretamente ligada a fatores sociais como a redução da criminalidade. Na pesquisa, o indivíduo determina seu comportamento por meio de suas experiências e interações pessoais. A medalhista acreana, Ana Cristina Ferreira, explica que a prática esportiva incentiva o aluno a buscar conquistar as suas metas e sonhos e o ambiente ajuda a fazer amizade. “Significa uma grande jornada de aprendizado. Além de muitas amizades que fiz, me sinto muito feliz, o esporte na minha vida traz o significado de querer continuar em frente, e não desistir dos meus sonhos e mais na frente irei conseguir o que desejo”.
Segundo o anuário de segurança pública deste ano, a região norte registrou cerca de 6.333 das mortes violentas do país em 2022 e 237 delas foram marcadas no estado do Acre. Um salto gigantesco, visto que em 2011 a região contava com apenas 3.303 das mortes violentas no país. A pesquisa relaciona a faixa etária de 15 a 30 anos como as principais idades entres os crimes apresentados acima.
O estudo da Unicamp revela que a prática esportiva pode afastar os jovens dessas problemáticas sociais, mantendo-os ocupados e fornecendo incentivos positivos, atendendo à necessidade de excitação, reduzindo o tédio, o estresse e o tempo ocioso.
Mas surge outra questão: como os jovens podem buscar a prática esportiva quando o estado não investe?
Em uma pesquisa de 2015, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), a maior porcentagem entre os praticantes de esportes está entre os jovens de 15 a 17 anos.
Recentemente, em agosto, o estado do Acre aprovou um projeto de lei que autoriza o repasse de R$2 milhões para o futebol local. Ao todo, vão ser distribuídos R$660 mil em premiações no estadual e R$600 mil aos clubes que se classificarem para o Brasileirão Série D.
Também serão distribuídos R$160 mil de premiação individual no estadual feminino, R$50 mil para o campeão e R$20 mil para o segundo lugar. Além disso, também serão repassados o restante do montante de R$2 milhões entre competições das categorias de base.
Por Walace Gomes – Estagiário em supervisão