Sem o benefício do INSS, eu não sobreviveria”. A frase foi dita por Elson Inácio da Silva, 75 anos, que reside há 35 anos na Casa de Acolhida Souza Araújo, localizada a 15 quilômetros da região central de Rio Branco, capital do Acre. ele é um dos 25 sequelados – pela hanseníase – que moram ou são atendidos na Casa de Acolhida, criada na década de 1920 para receber pessoas acometidas pela doença.
Embora já receba um benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Elson Inácio ainda espera ser contemplado com a pensão vitalícia, no valor de dois salários mínimos, destinadas hansenianos que viveram confinados em hospitais-colônia entre 1959 e 1986. Essa pensão vitalícia foi criada por meio da Lei nº 11.520, de 18 de setembro de 2007.
“Eu contraí a doença aos 14 anos. Passei 30 anos para procurar tratamento. Já era tarde. Não estava aqui no período atingido pela lei, mas tenho fé em Deus que irei conseguir”, explica o ancião, enquanto disputa uma partida de baralho.
Na mesma mesa de carteado estava Raimundo Batista da Costa, 85 anos. Na comunidade há mais de 40 anos, ele conta em voz mansa e quase tímida sobre as dificuldades e o preconceito pelos quais passou após ter a doença diagnosticada: “Foi um tempo de muita luta. A gente viveu no isolamento, mas resistimos. Quando eu cheguei aqui éramos quase 500 pessoas e hoje restam poucos”, declara.
Ao contrário de Elson, Raimundo foi contemplado com a pensão vitalícia de dois salários mínimos e relata a importância que o benefício tem na sua vida. “Eu não sei o que faria sem esse dinheiro. É claro que temos toda o apoio aqui, mas o benefício do INSS nos garante autonomia e independência para as nossas necessidades básicas”, salienta.
A hanseníase é uma doença que deveria está erradicada, mas continua atingindo pessoas que residem nas localidades mais distantes dos centros com maior desenvolvimento. É o caso do indígena Francisco de Souza Silva Apurinã, 56 anos, que contraiu a doença em 1995. “Fiquei isolado, com vergonha”, relembra.
Somente em 2015 Francisco se deslocou para Rio Branco, quando iniciou o tratamento na casa de acolhimento e também passou a ser um beneficiário do INSS. “Aqui, eu recebi os cuidados médicos e hospitalares. Também obtive o benefício do INSS, coisa que nunca pensei que conseguiria. É uma bênção”, agradece.
Segundo a responsável pela casa de acolhida, Irmã Celene, existe um setor de serviço social para acompanhamento dos internos beneficiados pelo INSS. O recebimento dos benefícios é fundamental para os internos suprirem às necessidades eventuais, principalmente para comprar alimentos e medicamentos quando estão fora da instituição.
Curiosidade
Criada na década de 1920 com o nome pejorativo de “Leprosário”, a Casa de Acolhida Souza Araújo iniciou com 30 hansenianos, que eram alimentados por meio de produtos fornecidos pela Santa Casa de Misericórdia de Rio Branco. Era um tempo díficil sob todo os aspectos.
O tratamento das feridas do hansenianos era realizado por meio de óleo de andiroba, álcool e iodo. Para desinfetar as casas, era usada a creolina. O tratamento específico da hanseníase era feito por meio de sulfona, sob forma de comprimidos ou injeções. Os medicamentos vinham de São Paulo e o médico visitava o “leprosário” uma vez por ano.
Em 1966, a pedido do então governador do Acre Jorge Kalume, a Prelazia Acre e Purus assumiu a direção-administrativa do local, ficando o governo responsável pela alimentação, remédios, salários e conservação dos espaços. Naquele ano, havia 400 hansenianos.
Em 1977, o espaço passou a ser cuidado pela Congregação das Irmãs Josefinas, permanecendo até os dias atuais. Depois de décadas, o “Leprosário” ou colônia, passou a ser chamado de Hospital Souza Araújo. Em 2000, o nome foi mudado, considerando que um hospital precisaria responder a todas as exigências específicas. Com a mudança, o hospital passou a se chamar de Casa de Acolhida Souza Araújo.