A professora universitária substituta, da Universidade Federal do Acre (Ufac), Zima Nzinga, 25 anos, comemora mais uma importante conquista profissional e pessoal, com a aprovação, em primeiro lugar, no programa de mestrado da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O tema de sua pesquisa são os estudos étnicos e africanos, mais especificamente sobre o escritor negro Adão Ventura e sua poética diaspórica. Entretanto, para além de seu trabalho acadêmico, Nzinga reconhece o quão representativo sua trajetória pode ser para outras pessoas, como ela, que são transexuais ou travestis.
“Fiquei imensamente feliz com a aprovação, mais ainda por ter sido em primeiro lugar. Não esperava essa colocação, pois estava concorrendo com pessoas de outros lugares do Brasil e até outros países. Acredito que ser a única travesti dentro do processo seletivo e ser aprovada evidencia o quão possível e real podem ser determinadas realizações. Espero que, a partir dessa aprovação, outras saibam que corpos travestis podem e devem ocupar novos espaços, que nossas narrativas não são determinadas por pessoas cisgêneras ou pelo sistema. Travesti é sinônimo de poder, intelectualidade, ancestralidade”, destacou ela.
Nzinga diz que, futuramente, pretende voltar a Ufac como professora, novamente, e continuar o trabalho que havia feito na posição de substituta, para continuar sendo um exemplo para outras que precisam de uma imagem em que possam se espelhar.
“Inicialmente, pretendo seguir como pesquisadora e engatar o doutorado. Em algum momento, quero retornar à academia, como professora universitária, e dar continuidade ao trabalho que tenho construído. Seria incrível a possibilidade de retornar à Ufac, uma vez que foi nessa Universidade em que me graduei e que pude cooperar por dois anos como professora substituta”, conta a pesquisadora.
A importância da representação
Morgana Café, 21, é estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e comenta a importância de figuras como a de Zima Nzinga estarem chegando nestas posições de destaque, como uma representação do que é possível para a comunidade, que é cuidada de forma precarizada pela sociedade.
“Me sinto representada, pois é uma travesti que está indo contra todo um ‘Cistema’ feito para subalternizar a gente, nossa identidade. Ver uma travesti negra em primeiro lugar em um mestrado me deixa até esperançosa para o futuro, é uma inspiração, uma vitória”, conta Café, sobre a conquista de Nzinga.
Além disso, a estudante de biologia fala sobre o impacto de ter uma igual para ser um espelho dentro da universidade, se tornando referência para outras. “Me motiva mais ainda a seguir a área da pesquisa, fazer um mestrado e, quem sabe, doutorado, caso eu tenha oportunidade. É impactante para todas nós, pois mostra que podemos mais, que somos mais que a ‘travesti doida’, que todos acham promíscua, nojenta, dentre outros adjetivos negativos Ao contrário, podemos alcançar todos os espaços. É incrível a história da Zima porque nos dá esperança!”, finaliza ela.