Às vezes escrevo aqui, faço uma anotação ou outra. Há o impulso de escrever, dizer algo, achar que tenho algo a compartilhar. Depois vem a sensação de que já não há mais nada a dizer. Chafurdamos em opiniões e palavras. Egos. E agora temos que escolher com cuidado a sonoridade de nossas opiniões, pois uma música determina sua sexualidade.
As redes sociais ou o Algoritmo manda o nicho ao qual julga que lhe cabe e não se fala mais nisso. Se escolher errado vai pagar o preço ou assumir o que não é porque fomos engolidos pelo que criamos.
Será que a solidariedade e o respeito sejam de esquerda ou de direita, a inclusão social e a variedade de gêneros e de preferências sexuais, culturais, sejam de esquerda, a monocultura normativa, e por aí vai, podemos inventar tantos pares de oposição quanto desejarmos. Nossa cultura é faminta por dicotomias. Submeto que existem pessoas universalistas, muitas e muitas delas, que estão se lixando para tais dicotomias de nenhum poder explicativo. À falta de melhor termo, as chamaria de universalistas, já que liberais também são acusados de toda forma de maldades contra a humanidade, os bons modos e os princípios.
Universalistas seriam aqueles que abraçam valores iluministas, do conhecimento, da ciência, do progresso e da cultura, que não aceitam a fome, miséria e pobreza como fatos insuperáveis. E que se lixam para os apetites pessoais e religiosos de cada pessoa. E que pensam que a solução dos pequenos dilemas dicotômicos que nos assolam, sim, pequenos porque dicotômicos, reside em arguir a necessidade de métodos e opiniões baseados em fatos para produzir riqueza, liberdade absoluta, em todos os sentidos, prosperidade e felicidade, mercados livres, com adequada taxação e redistribuição. E apreciam, senão advogam, a excelência intelectual, científica e artística. E se lixam para a esquerda e a direita contemporâneas. Assim como, sobretudo, se lixam para Lula e Bolsonaro e séquitos.
A cultura da humanidade rendeu-se à realidade da formação dualista do mundo. Considerar a realidade um todo único válido para todos é criação do intelecto. As ciências e as tecnologias se estruturaram com base na realidade dual da vida.