Parece que Floriano Peixoto, o filho lutador do presidente, numa noitada de cachaça, viu passar um italiano com um urso acorrentado pelo focinho e chamou o valente pra brigar. Não, não o italiano, o urso. E seria então essa a cena que se reproduz até hoje nos fevereiros pernambucanos. Claro, com uma adaptaçãozinha de nada. Não dá muito certo marcar lutinha com urso de verdade no meio do povo, no meio do carnaval. Bem, não dá pra marcar lutinha com bicho nenhum, ainda mais acorrentado, pelo amor, que ideia torta. E aí que o combo urso de verdade + italiano + herdeiro bêbado + lutinha virou uma pessoa vestida de urso e um monte de gente gritando atrás dela no meio da rua. Li no artigo de 2021 de Marília Santos, A La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro: transformações no carnaval das La Ursas em São Caitano (PE).
Esse fim de semana eu assisti The Bear, série premiada e queridinha da Lola. Os cabelos desgrenhados de Jeremy Allen White me lembraram a La Ursa. Voltei angustiada pra infância. Marília Santos sentia parecido quando pequena. “Era uma mistura de medo e encantamento por aquele “animal” colorido e brilhante. Meu coração batia forte ao ouvir as batucadas que soavam enquanto a La Ursa se aproximava da minha casa”. Pra mim é igual até hoje. Agora nas férias, vi uma La Ursa na praia. As meninas avisaram que ela estava por perto, tive vontade de ficar, deolhar pra ela, mas o corpo todo pedia fuga e eu corri pro mar. Carmen, personagem de White, está também entre a fuga e o desejo de permanência. Ele é o italiano, o herdeiro e o urso ao mesmo tempo.
Lá pela segunda temporada, meio que desavisadamente, entra no fim de uma cena Strange Currencies do R.E.M. Essa música é de 94, o ano de minha primeira grande fuga. Eu tinha o disco. Eu tinha poucos discos. Ouvia os mesmos o dia inteiro. Foi um susto. A menina medrosa dos carnavais deu a mão para a adolescente perdidinha de 94. Eu fiquei ali com elas.
Tinha ouvido não fazia muito tempo um relato de sonho também com ursos. “Eu nadava com um urso. Sabia que era perigoso, mas sabia também que tinha que enfrentar o medo”, me disse um animal colorido e brilhante. A parte dessa música que eu mais gosto é aquela no finalzinho. “I need a chance, a second chance, a third chance, a fourth chance” (Eu preciso de uma chance, uma segunda chance, uma terceira chance, uma quarta chance). Sei lá, acho que todo mundo precisa, né? Menos Floriano Peixoto Filho. Sem noção. Nademos! Boa semana, queridos.