A companhia aérea Gol anunciou no fim desta quinta-feira (25) que está entrando voluntariamente com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Segundo a própria Gol, foi acionado o chamado “Chapter 11”. Esse é um processo legal americano usado para as companhias levantarem capital, reestruturarem as finanças e fortalecerem suas operações comerciais no longo prazo, enquanto seguem operando. Para analistas, o pedido não foi uma surpresa, mas as ações da empresa devem sofrer.
“A gente não vê isso como uma grande surpresa, porque a empresa mencionou a possibilidade há algumas semanas. Recentemente, ela perdeu o crédito para comprar financiado o combustível e precisou comprar em caixa, o que é muito incomum. Então, não foi uma surpresa, mas devemos ver os papéis dela caírem substancialmente na bolsa. A companhia está em situação financeira delicada, com endividamento alto”, afirma Phil Soares, analista da Órama.
Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, afirma ser “evidente” que a situação é ruim para a companhia e lembra que as empresas do setor aéreo sofreram muito com a pandemia. Ele destaca, porém, que o governo discute a criação de um fundo de R$ 6 bilhões para ajudar o setor, o que pode ser positivo não só para a Gol como para as demais empresas do segmento.
Segundo reportagem do Valor Econômico, o pacote citado por Espirito Santo deve ser anunciado nos próximos dez dias. Segundo o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, o Fundo Nacional de Financiamento da Aviação Brasileira está sendo preparado em conversas com o Ministério da Fazenda e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O ministro não explicou, porém, qual será a origem dos recursos.
Para Espirito Santo, apesar de haver incertezas a respeito da medida, ela pode ser positiva. “As ações da Gol estão zeradas nesse momento e a Azul está subindo. Tem muita dúvida em relação ao que vai acontecer, precisamos entender direitinho, mas acho que o fundo do governo pode contrabalancear ou pelo menos mitigar eventuais quedas fortes no setor”, afirma o analista.
Soares, da Órama, também destaca a alta das ações da Azul e afirma que a situação da companhia é um pouco melhor que a da Gol.
“Sabemos que a Azul também está em situação financeira delicada, mas em menor grau que a Gol, até por ter um controlador mais ativo e proativo em renegociações que conseguiu estabilizar seu passivo de forma mais competente”
Em nota, a Gol informou que ”utilizará esse processo para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo”.
“A companhia espera sair desse processo com um investimento significativo de capital, incluindo os novos US$ 950 milhões em financiamento DIP, posicionando-a para expandir sua posição como Companhia aérea líder na América Latina”, afirma a Gol no documento. O DIP é uma modalidade de crédito para empresas em recuperação judicial que permite às empresas suprir a falta de fluxo de caixa para arcar com as despesas operacionais enquanto a companhia está sob a proteção judicial.