Um estudo desenvolvido pelas universidades Federal do Acre (Ufac) e Estadual do Ceará (Uece), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centro de pesquisas americano Woodwell Climate concluiu que o Acre sofreu, entre 1987 e 2023, mais de 250 eventos climáticos extremos.
A pesquisa, publicada nesta semana pela revista “Perspectives in Ecology and Conservation”, sugere que o estado pode ser um dos mais afetados do Brasil pela crise climática, tendo 2010 como o ponto de virada entre a frequência normal desses eventos e sua intensificação.
Secas e enchentes cada vez mais intensas e frequentes, além de incêndios florestais e queimadas urbanas, estão entre os sinais mais aparentes dessa anormalidade climática. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores examinaram estudos e decretos estaduais e municipais de alertas climáticos e ambientais.
Até 2004, ocorria, em média, um evento extremo por ano nas cidades acreanas. A partir daí, a frequência sobe para dois ou mais episódios no mesmo ano em um mesmo município. Os evento se tornaram ainda mais repetitivos em 2010, quando “vemos uma quebra, uma ruptura do padrão que se mostrava até então”, destaca a pesquisadora Sonaira Silva.
Professora da Ufac, a autora do estudo afirma que o meio ambiente não tem conseguido se regenerar após cada evento, ficando mais frágil ano após ano. Isso sugere que o estado já pode ter ultrapassado a linha de ponto crítico para desastres climáticos.
Pessoas mais pobres e que vivem em áreas de risco são as mais afetadas, especialmente nas maiores cidades, como Rio Branco e Cruzeiro do Sul, onde a área desmatada é maior. “As regiões que têm menos floresta são aquelas em que os eventos climáticos mais ocorrem, mas o prejuízo está por todos os lados”, conclui a professora.
Para amenizar o problema, é necessário, entre outras medidas, recompor a mata nativa, adaptar as cidades locais para modelos mais sustentáveis, criar políticas ambientais e aplicar com rigor as já existentes.