No fim de semana que precede o Dia Nacional da Visibilidade Trans, a poetisa trans, Gabe Alódio, 28 anos, lança seu primeiro livro, neste sábado 27, no Memorial dos Autonomistas. O evento de apresentação da obra está marcado para às 19 horas.
Gabe explica que este não é o primeiro livro que escreveu, mas foi o primeiro a ser aceito por uma editora. Entretanto, a realidade é que a princípio este é, na verdade, uma colagem de vários poemas feitos durante a pandemia e que o intuito destes materiais nunca foi serem publicados, mas que a oportunidade bateu à porta.
“Fogo em Minha Pele é uma voz para aquelas garotas que enfrentam desafios, seja na espera por uma resposta de seu crush mais velho, nas festas não convidadas ou nas lágrimas à beira da piscina. A obra é uma celebração da juventude e uma reflexão sobre o fogo inspirador que queima em cada uma delas”, explica a autora.
A jovem escritora compartilhou um pouco sobre o começo no mundo da literatura e o que a levou a se expressar através deste tipo de arte.
“ Eu comecei a escrever como uma forma de expressão para mim, porque eu não sabia como me expressar. Na minha adolescência, eu não sabia que era trans, apesar de ter sido uma criança trans. Eu passava por todo um processo de depressão, de bipolaridade. Eu não sabia como me expressar e a forma que eu encontrei de me expressar foi pela escrita. E eu sempre digo, a maior inspiração de todas é a insatisfação. Seja comigo mesma, seja na minha vida pessoal, seja com o mundo, seja com a sociedade, é sempre a insatisfação que gera os melhores trabalhos”, confidenciou.
A escritora ainda brinca que um dia sonha em poder escrever por prazer, mas que isso ainda não é o que a move. “Eu espero que um dia, quando eu tiver, sei lá, meus 50, 60 anos de idade, eu possa dizer, ah, não, eu escrevo por puro prazer. Mas, por enquanto, é a minha insatisfação. A minha insatisfação é a que move para que eu crie alguma coisa que eu possa estar minimamente mais satisfeita”, destacou.
Sobre seu processo criativo, Gabe explica que em sua perspectiva a poesia sempre foi algo musical e que, por isso, suas obras são altamente influenciadas pela música.
“Existem muitas referências de pessoas da música nesses poemas. E eu nem fiz de propósito. Na verdade, eles só fazem parte do meu inconsciente. De certa forma, eles foram até o papel”, disse a autora ao destacar três influências artísticas musicais em seu processo criativo: Mitzki, Patti Smith e Zé Ramalho.
Segundo a jovem escritora, o maior fio condutor da obra está conectado às suas desilusões amorosas, aos amores que deram errado e ao enredo os quais se desenrolaram na vida.
“Uma parte de mim gostaria de poder ter uma vida calma, quieta, com um amor tranquilo, como as pessoas dizem no Twitter. Onde eu pudesse morar, sei lá, em um lugar onde eu pudesse criar galinhas, plantar laranjas e aprender a tocar alguns instrumentos musicais, mas existe uma parte enorme de mim, que exige que eu sempre me apaixone por pessoas que não me querem e isso cria essa enorme tempestade onde eu posso criar coisas”, diz Gabe sobre os amores que ajudaram a fomentar os poemas do livro.
Sobre o público alvo, Gabe diz que ele é dedicado especialmente para todas as garotas. “Para garotas que se sentem perdidas de alguma forma. Garotas que se apaixonam pelo amigo. Garotas que se maquiam só pra ficar em casa. Garotas que tinham uma página no Tumblr, lá em 2012. Garotas que se sentem incompreendidas, perdidas. Garotas que compraram absolutamente todos os álbuns da Lana Del Rey e nunca abriram os álbuns “, disse.
Por fim, a artista deixa um convite para que participem do lançamento de seu livro, neste sábado, 27, no Memorial dos Autonomistas, Centro de Rio Branco.