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Diretora do Centro Sócioeducativo de Feijó diz que é perseguida por agentes após denunciar práticas de tortura

O Instituto Socioeducativo (ISE) vem enfrentando problemas no Centro Socioeducativo Feijó, no interior do estado do Acre, onde a atual diretora, a psicóloga Catiúscia Holanda de Melo,  afirma que está sendo “perseguida” dentro da instituição. 

Segundo ela, os agentes do local não aceitam que uma pessoa da equipe técnica esteja à frente da instituição, pois, na visão deles, ela não seria capaz de gerir o ambiente devido à falta de experiência com o trabalho. 

Em entrevista À GAZETA, Catiúscia Holanda deu sua versão sobre o que vem acontecendo dentro da unidade.

O que a diretora aponta é que existe um “complô” dos agentes, que teria iniciado a partir de uma denúncia feita por ela, quando ainda atuava como psicóloga na instituição, sobre adolescentes que estavam passando por tortura.

“Meu trabalho como psicóloga dentro da unidade é garantir direitos, e quando eu exerci essa função, houve situações de tortura a adolescentes, eu ouvia adolescentes em atendimento, fiz relatório e dei os encaminhamentos necessários a isso. Hoje os agentes que se envolveram na tortura estão respondendo o processo, inclusive no núcleo de tortura do Ministério Público. E, desde então, eles criaram essa raiva de mim”, afirmou ela.

A psicóloga afirma ainda que, durante sua gestão, que tem cerca de seis meses, conseguiu zerar o número de denúncias de tortura e maus tratos contra os adolescentes. 

“Quando eu assumi a direção, essas mesmas pessoas, que já eram antigas no sistema, falavam mal de mim para os agentes, que eu era perseguidora, então eles foram criando essa imagem de mim”, conta a gestora.

Ela conta que muitos agentes entregaram os seus cargos dentro da instituição, para impedir a operacionalidade da unidade, criando uma pressão para que ela desistisse da direção. 

“Os agentes socioeducativos se uniram, entregaram todos os cargos com o objetivo de me tirar da direção da unidade. Uma forma de me pressionar a entregar o cargo ou pressionar o presidente para que ele me tire”.

De acordo com pessoas da equipe técnica, a diretora tem sofrido “agressões verbais e pressão psicológica”.

O que é dito pela equipe de gestão da unidade é que essa perseguição está acontecendo por parte de agentes socioeducativos ligados ao sindicato.

A gestora revela que não consegue mais se sentir “segura” no seu ambiente de trabalho, e que isso prejudica a sua gestão e a qualidade do serviço entregue para a sociedade. “Não me sinto segura diante de tantos comentários de ódio que a gente vê nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, as declarações deles quando vão falar sobre mim. Teve uma reunião aqui com os gerentes de segurança do departamento meio fechado do ISE e eles falam sobre mim com muito ódio”, relata.

Segundo a diretora, houve ainda um episódio no qual onde um dos ex-coordenadores bateu em seu carro de maneira proposital, no estacionamento da unidade. “Ele bateu no meu carro, no estacionamento da unidade, eu registrei um boletim de ocorrência contra ele diante das coisas que estão acontecendo aqui, e quando ele me encontra ele fica me encarando, estou me sentindo ameaçada, não me sinto segura”.

O espaço em que o fato aconteceu conta com câmeras, e a psicóloga pontua que isso a assusta, pois, mesmo sabendo que a imagem seria capturada, o ataque foi feito. Por ter ocorrido em uma parte interna da unidade, as imagens não podem ser divulgadas ao público, por questões de segurança.

“Se uma pessoa é capaz de bater no meu carro, no estacionamento da unidade do meu trabalho, onde tem câmera, o que que ele não pode fazer mais?”, indaga. Catiúscia diz que entrou com uma medida protetiva contra o colega de trabalho.

Ela acredita que a pressão feita pelos agentes ocorre pelo fato de ser uma mulher à frente de uma unidade masculina, e também por ser uma pessoa da equipe técnica em cargo de chefia. “Eles acham que somente eles podem exercer essa função dentro do sistema, que somente eles têm capacidade para exercer essa função”.

A gestora fala que os agentes têm outras intenções por trás da perseguição feita a ela, que seria atingir a atual gestão do socioeducativo. “O objetivo maior dos agentes hoje no ISE é tirar o presidente do cargo, o presidente Mário César. Eles tentam a todo custo apontar erros na gestão por completo”.

A longo prazo, Catiúscia acredita que este movimento feito pelos agentes é para que uma reforma dentro do ISE seja feita, e que se aproxime aos atuais moldes do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen). 

Segundo o estatuto interno do ISE, as posições de diretoria e gerências podem ser ocupadas por pessoas do quadro técnico e estes postos, que são destinados mediante indicação, não são exclusivos dos agentes socioeducativos.

O OUTRO LADO: O que diz o Sindicato

Procurado por A GAZETA, o Sindicato dos Técnicos e Agentes Administrativos do Acre (Sintase) confirmou que existe uma ”insatisfação dos servidores, agentes socioeducativos, com a gestão da diretora de forma generalizada”, mas nega perseguição. Segundo eles, “a forma autoritária com que ela conduz a unidade tem criado um clima de hostilidade e desmotivação no trabalho.”

Além disso, o sindicato alega a inexistência de diálogo e transparência e políticas administrativas ineficientes.

O Sintase afirma ainda que a experiência sob o comando do presidente Mário Cesar está sendo desagradável. “Na verdade, a experiência de ter um militar no comando não está sendo visto com bons olhos pela categoria, ele não é flexível e nem volta atrás da palavra dele, acho que é devido ser coronel”.

Equipe técnica divulga nota de apoio à diretora

Apesar de a equipe técnica fazer parte do sindicato, as profissionais afirmam que não se sentem representadas dentro do grupo, e também apontam insatisfação com as ações de parte dos agentes socioeducativos.

Em nota, a equipe composta por psicólogas e assistentes sociais, se pronunciou sobre a  maneira que os agentes da unidade vem agindo em relação a atual gestora.

“É inadmissível a postura adotada por um grupo de agentes socioeducativos do CS Feijó, que vem sendo pautada na ausência de respeito à dignidade da servidora e à função que ocupa, fato que nos alerta sobre a violência de gênero e intransigência que ainda norteiam a conduta de alguns, mesmo diante de tantas discussões e debates educativos sobre o tema que, atualmente, é amplamente difundido em nossa sociedade”, diz trecho da nota. 

A equipe técnica ainda afirma através do documento que o sindicato está sendo omisso, e que o presidente se manteve inerte mediante a procura feita por parte de diversos servidores, que questionaram as ações dos agentes contra a situação em questão.

Confira a nota das técnicas na íntegra.

“NOTA DE REPÚDIO

A toda forma de boicote e perseguição ao trabalho desenvolvido pela servidora Catiúscia Holanda de Melo.

Nós integrantes da Equipe Técnica (assistentes sociais e psicólogos) do Instituto Socioeducativo do Estado do Acre (ISE), manifestamos nosso total repúdio diante das ações de boicote e perseguição as quais Catiúscia Holanda de Melo, psicóloga efetiva e atual diretora do Centro Socioeducativo de Feijó, vem sendo exposta desde a sua nomeação para o cargo.

É inadmissível a postura adotada por um grupo de agentes socioeducativos do CS Feijó, que vem sendo pautada na ausência de respeito a dignidade da servidora e à função que ocupa, fato que nos alerta sobre a violência de gênero e intransigência que ainda norteia a conduta de alguns , mesmo diante de tantas discussões e debates educativos sobre o tema que, atualmente, é amplamente difundido em nossa sociedade.

Não obstante, nós, servidores/as que formam a Equipe Técnica do ISE, nos sentimos diretamente afetados/as pelos fatos, ao passo que não temos nos sentido representados/as pelo sindicato, do qual também fazemos parte, já que nenhuma ação em defesa à servidora foi adotada pela entidade representativa.

Aqui, cabe ressaltar a inércia do atual presidente – Janderson Oliveira Jácome, que foi procurado por vários servidores no intuito de que uma posição em relação ao fato fosse publicizada.

Solicitamos portanto que as autoridades competentes possam tomar as medidas cabíveis no intuito de impedir que outros comportamentos iguais ou semelhantes a este venham acontecer, bem como coibir a perpetuação de comportamentos discriminatórios e desrespeitosos no Sistema Socioeducativo do Acre.

Além disso, solicitamos à Gestão do ISE e a quem mais couber, que a conduta dos agentes socioeducativos envolvidos no fato seja apurada, vem como os possíveis prejuízos causados a instituição e aos serviços por nós desenvolvidos.

Reiteramos nosso apoio incondicional à servidora e a todas as mulheres que diariamente enfrentam desafios similares e reafirmamos nossa total confiança na competência técnica de Catiúscia que vem desenvolvendo um ótimo trabalho, mesmo com todas as tentativas de boicote e insubordinação orquestradas pelo grupo, que, temos plena certeza não é apoiado por todos os agentes socioeducativos lotados na unidade. Aos que permanecem exercendo as suas funções com compromisso e seriedade, nossos cumprimentos.

Seguiremos firmes na missão de construir dentro do ISE um ambiente de trabalho que seja seguro, respeitoso e livre de qualquer forma de violência.

Justiça e igualdade não podem ser alcançadas enquanto persistirem atitudes que atentem contra os princípios mais fundamentais da convivência humana.

Pelo fim da violência de gênero e pelo respeito a todos/as os/as profissionais da equipe técnica do ISE”

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