Condenado ao exílio pelo seu Príncipe, Maquiavel misturou-se à gente do povo querendo ouvir as suas estórias, ele que abriu o coração voltou-se para si mesmo e viveu a mais pungente solidão, levantava-se com o sol para exercitar o corpo enquanto se fazia de lenhador: para passar o tempo é preciso viver o presente a partir do qual abrimos caminho ao futuro, que vem ao encontro na medida em que o pensamento se desenvolve livremente no sentido da ação, pois a existência que parecia miserável descobriu a vida que dá para o mundo. “O justo viverá pela fé”, como está escrito na epístola aos romanos, cujo objetivo é satisfazer o desejo e contentar o fiel seguidor, pois existir é viver sob a determinação do passado.
Para Maquiavel o justo transforma o conhecimento para convertê-lo em um saber que dá ao poder a força da fé, quem move montanhas é capaz de fazer a história.
O humanismo deixou o herói ocupado com os monstros e entrou dentro do homem para desvendar-lhe a alma, a interioridade que se recolheu ficou presa e não foi além do ponto de vista fixado pela lógica, pois não se imaginava outra coisa senão o bem; o maquiavelismo partiu para o mundo em meio ao qual as lutas misturaram o bem e o mal que tomou ares diabólicos, pois o homem percebeu o espírito cheio de contradições e viu os olhos demoníacos e geniosos, se a questão é fazer o bem, mais do que lógicos devemos ser livres. O desenvolvimento ainda estava limitado à ordem, a manutenção da ordem evitava o caos que justifica as mais tolas pretensões e a própria conservação do status quo, totalmente amparado na dominação; só com o progresso rumamos para tomar o caminho da evolução, a liberdade que conquistamos quebra as correntes que nos prendem e apresenta sua face maldosa quando seguimos adiante e abandonamos aqueles que não conseguem acompanhar nossos passos.
Para avançar nos colocamos à altura do gênio e cortamos na própria carne, a liberdade está em você fazer com você mesmo o que precisa ser feito, sem dó nem piedade, pois a compaixão aprisiona e enfraquece, se o sacrifício desgasta a realização enriquece; eu que cheguei para tomar a consciência não medi esforços e fui cruel, quem tive que matar eu arranquei do peito e remorso nenhum me atarantou, “os fins justificam os meios” porque o meio é político e o acréscimo providencial.
Em política, não tomamos o poder pela força, porque assim César sucumbe à força, não queremos ocupar o lugar de Deus, porque assim o diabo tenta; em política procuramos nos entender para construir o poder, é possível fazer o que tem de ser feito, compreende-se, definir, teórica e praticamente, o que é política.
Neste sentido mais antigo estamos falando aristotelicamente, no limite pensamos a política e atuamos por meio dela, a face moderna e contemporânea é dialética na medida em que compreendemos a práxis, pois atuamos politicamente e pensamos a política em termos filosóficos; o fato é que governamos para expandir as conquistas e colocar o mundo sob perspectiva, neste sentido observamos a qualidade e o espírito do cientista político, ele está por trás de tudo que é vivo e sente o seu ministério, das coisas que acontecem ele é o mentor.