Sócrates até hoje, é considerado o maior filósofo de todos os tempos, embora nada tenha escrito.
Filosofava nas ruas e praças, conversando com o povo. Dizia nunca ter aprendido com mestres, exceto numa ocasião em que afirmou ter sido aluno de uma contadora de histórias: a sábia Diotima. Foi a mestre-educadora do maior filósofo.
E a lição que Diotima ensinou a Sócrates é uma das mais necessárias e decisivas à filosofia, à educação, enfim, à vida.
Foi a lição que ensinou que a autêntica sabedoria não é apenas teórica, ela também deve ser prática e, sobretudo, afetiva.
Diotima ensinou a Sócrates sobre “Daimon”: o “Eros”. O Daimon não é era um Deus que vivia em altares ou Olimpos, tampouco no submundo, sob a terra.
Ele habitava o espaço entre o céu e a terra, entre o eterno e o temporal, entre o imorredouro e as coisas que nascem e morrem.
O mundo aprendeu que Eros-Daimon não é um Deus que exige cultos, ele é uma força vital para exercícios de cuidados: consigo, com os outros e com o cosmos. Pois Eros não fica parado na fronteira entre o tempo e eternidade, na verdade ele auxilia na travessia de quem, estando no lado da fronteira onde tudo é inconstante e “líquido”, deseja, porém, alcançar, ainda em vida, realidades que não morrem. Em grego, “Eros” significa tanto “amor” quanto “asas”. Mas as asas de Eros não são como as dos pássaros, e sim como as da borboleta: asas sutis e coloridas, asas que podem viajar para longe, nascidas que são de uma metamorfose.
A travessia que Eros conduz não é feita em linha reta que vai de um ponto dado a outro. A travessia de Eros começa em nossos sonhos, desejos, aspirações, inquietações e se efetiva quando criamos caminhos entre nossa criatividade pensante e a realidade nova que precisa nascer do nosso agir e criar, individual e coletivamente, como bem disse o poeta Manoel de Barros: “A reta é uma curva que não sonha”.
A borboleta é o sonho utópico da lagarta, um sonho que se tornou realidade efetiva.
Contrariamente às asas de Ícaro, presas nas costas com engodo e sem estarem enraizadas em seu ser (asas que sobem para depois fazerem cair), as asas de Eros nascem nas costas e elevam não só a cabeça, mas todo o nosso ser.
A filosofia não é, como dizem, apenas “amor teórico à sabedoria”; a filosofia é, ao mesmo tempo, educação autonomizadora para necessárias travessias e política emancipadora que conduz as sociedades em suas travessias democráticas, apesar dos muros e ameaças das tiranias.