Habla Mesmo – Cansado de cavar conteúdos profissionais pra subir nas próprias redes, Flávio Bernardo tiraria do papel uma ideia que já deve ter passado até pela tua cabeça. Investimento meio alto no início, que ele tá desempregado há um tempão, mas nada demais também. Seria o aluguel de um estúdio pequeno, uma sala comercial até, uma mesa, uma cadeira de espaldar alto, um microfone que não precisa nem funcionar, e um letreiro de fundo, mas desses digitais pra customizar com facilidade. Do outro lado, palco, uma cortina vermelha de veludo, púlpito transparente de acrílico, microfone (daqueles da Madonna, sabe?), fichinhas de papel e voilà. Entre os dois cenários, um ring light com tripé. Meia horinha no Habla Mesmo e o cliente sai com corte de podcast e foto de palestra. Dá pra fazer pacote de mais de um podcast se quiser também. No mercado livre tem kit de ring light mais luz colorida pra mudar a cor do fundo por R$89,90. A cadeira, o microfone e a mesa pode repetir, são sempre iguais em tudo que é podcast.
Bons ventos – Talvez quem apostaria mais na elasticidade da ética seria Idalina. Conheci uma Idalina que precisou mexer no dinheiro da previdência pra fazer uma viagem a Portugal. A mãe nunca tinha lhe pedido nada, mas já de voz fraquinha, na cama do hospital, comentou de um sonho. Via a filha de casaco ⅞ de couro, naquela luz linda de Lisboa, cabelos longos voando enquanto jogava um pó acinzentado na direção do Tejo. Foram R$5578,60 da passagem, voando na quarta-feira e com escala, R$2604 do megahair, R$399 no casaco de couro ecológico e ainda bem que deu pra ficar na casa de tia Marcinha. A Bons Ventos, prestaria o serviço que Idalina não encontrou na ocasião da morte da mãe. Levaria as cinzas do ente querido do cliente a qualquer lugar do mundo, com direito a foto e vídeo registrando o momento do reencontro da matéria com a natureza. Ela pensaria a princípio nos amigos que fez nos dias de Portugal. Tia Marcinha era moça popular e em duas semanas deve ter dado pra conhecer gente do mundo todo. Era só sapecar as cinzas num Sedex e pagar o freela pra quem estivesse em Paris, Londres ou NY, é sempre Paris, Londres ou NY. Depois pensaria que matéria é tudo matéria e no fim o que importa é o simbólico. Joga-se o que tiver à mão. Aí no desejo de recuperar o dinheiro do banco, lembraria da existência dos bancos de imagem, do Photoshop e da inteligência artificial. Sentada do sofá de casa mesmo faria os R$8041,60 do prejuízo da viagem todo dia se quisesse e nunca mais encostaria um dedo em casaco de poliuretano.
Tá bom, chega. Boa semana, queridos.