Vladimir Putin moldou a Rússia para tornar-se o seu presidente vitalício. Das poucas certezas que temos na eleição de três dias que começa nesta sexta-feira, 15, é a de que ele sairá dela reeleito para o quinto mandato. Está respaldado pelas mudanças que empreendeu em 2020 na Constituição russa, que lhe asseguram manter-se no cargo pelo menos até 2036.
Aos 71 anos, o autocrata não fez um sucessor e, 24 anos após assumir o cargo, governa o país como se fosse insubstituível. Afastou do pleito os concorrentes que poderiam desafiá-lo na guerra que promove na Ucrânia, como Yekaterina Duntsova e Boris Nadezhdin: ambos foram banidos de entrar na disputa pelo órgão eleitoral. Seus opositores estão mortos, exilados ou silenciados na prisão.
A cédula eleitoral tem outros três candidatos de partidos aliados do Kremlin. Ou seja, os russos votarão numa eleição sem observadores, programada apenas para legitimar Putin e reafirmar, assim, o apoio maciço da população à guerra na Ucrânia. Na sua cartilha, o “Putinismo” é para sempre, como destacaram os pesquisadores Michael Kimmage e Maria Lipman em artigo na revista “Foreign Affairs”: não permite rivais nem herdeiros.
“Outro objetivo de Putin tem sido privar a maioria dos russos da capacidade de imaginar um futuro sem ele. Porque é impossível combatê-lo hoje, pensa-se que será impossível combatê-lo amanhã. Não mais cercado por um Parlamento, uma Constituição ou uma oposição política, Putin está no auge do seu poder. Um sentimento predominante que o ‘Putinismo para sempre’ proporciona a muitos russos é uma sensação de estabilidade; a continuidade política que eles conhecem melhor. Para uma minoria, induz desespero ou raiva”, ponderam os professores.
Essa sensação de que Putin ficará no cargo até o fim de seus dias é corrente no país, perpetuada pelo próprio presidente, que detém o controle das instituições: Parlamento, sistema judicial, meios de comunicação e órgãos de segurança, entre outros.
Substituto sem carisma
Pela Constituição, se ele morrer ou ficar incapacitado, seus poderes serão assumidos pelo presidente do governo — no caso, o primeiro-ministro, Mikhail Mishustin.
“O premiê é um antigo funcionário fiscal pouco carismático, que carece de uma forte base de poder própria. Caso suceda a Putin como presidente interino, é improvável que se torne o substituto permanente”, analisa o professor de Relações Internacionais Robert Person, da Academia Militar West Point, dos EUA, em artigo no site “Conversation”.
De volta à URSS
Estudioso do regime russo na gestão de Putin, Person explica que o presidente construiu uma ditadura na Rússia que rivaliza com a repressora antiga União Soviética, tanto na brutalidade quanto na corrupção. Mas observa que, ironicamente, Putin tornou-se um prisioneiro do sistema político que construiu à sua volta nos últimos 24 anos.
“Como muitos ditadores, ele não pode abandonar o poder e desfrutar de uma aposentadoria tranquila. Está muito apegado e dependente da riqueza e do poder que acumulou como servidor público”, pondera Person.
O quinto mandato igualaria Putin a Joseph Stálin, que liderou a União Soviética por 30 anos, até a morte. Como um ditador que centralizou o poder, eliminou inimigos com diversos métodos e invadiu países vizinhos, o presidente russo se comporta como um czar e sabe dos riscos que enfrentaria se deixasse o trono antes disso.
Fonte: G1