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Após mais de 40 anos sem contato a família do Ceará , vendedor de frutas localizado no Acre reencontra parentes

“Nem imaginava que vocês iam achar minha família, pensei que nem tinha mais”. O pensamento foi verbalizado pelo vendedor de frutas Francisco José da Silva, de 59 anos, durante uma videoconferência com familiares que moram na cidade de Pacajus, no Ceará. O reencontro virtual, após mais de 40 anos, só foi possível com a ajuda da Polícia Militar do Acre. A guarnição do 3º Batalhão, que atende a Vila do V, em Porto Acre, foi responsável pelo sucesso dessa missão humanitária na última semana.

Ainda adolescente, Francisco, que é mais conhecido como “Ligeirinho”, saiu do interior do Ceará em busca de mudar de vida, quando perdeu todo o contato com a família e passou mais de quatro décadas sem notícias. A mãe, Maria do Socorro da Silva, morreu há mais de 26 anos, sem poder reencontrar o filho.

“A minha mãe era separada do meu pai, meu pai arrumou uma mulher e minha mãe outro homem, e a fome também estava demais. Fui me virando até o dia que resolvi vir embora e vim mesmo”, conta.

A busca começou após uma mensagem no perfil da comandante do batalhão, a tenente-coronel Cristiane Soares. O perfil oficial havia feito uma postagem sobre o Dia da Mulher e então Mayara Almeida, sobrinha do vendedor, escreveu, tanto na página como no privado da comandante, um pedido de ajuda para encontrá-lo.

A mensagem mandada pela sobrinha de Francisco resumia a história dele e pedia uma ajuda. “Sou do Ceará e vim falar com vocês, pedir ajuda para encontrar o irmão da minha mãe. Ele foi embora em 1984 e nunca mais deu notícias. A família sempre teve o sonho de procurar por ele, mas não tinha notícias e nem sabia por onde começar. Até que soubemos que ele estaria no Acre, então entramos no site do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e achamos umas informações. Ele atualizou o título de eleitor há duas semanas e reside em Vila do Incra, Projeto Humaitá”, dizia a sobrinha na mensagem.

Buscas

No mesmo dia, os policiais, com as informações repassadas pela família, começaram a fazer algumas buscas. A comandante conta que, por ser uma cidade pequena, acreditavam que poderiam achar com facilidade. Porto é um município com 16.693 habitantes, grande parte na zona rural.

Nas pesquisas, foi encontrado um número de telefone, que tinha WhatsApp, e com esse número e foto, os policiais acionaram a guarnição de Porto Acre.

“Enviamos a foto desse senhor e mandamos para os policiais, que reconheceram a pessoa, porque era um comerciante da região. Mas, ao chegar no local, a história não batia. Então, o comerciante disse que não era ele a pessoa em questão, mas conhecia quem poderia ser, de apelido ‘Ligeirinho’. Quando ele falou esse nome, os policiais já sabiam quem era, porque, como é vendedor de frutas, fez parte da infância de muitos deles”, contou a tenente-coronel.

Como Francisco mora na zona rural e não tem telefone, coincidentemente, naquele mesmo dia, o comerciante disse que ele iria buscar um dinheiro com sua esposa e avisaria a PM. Os policiais então localizaram o vendedor e confirmaram que era o tio procurado por Mayara.

“Eu digo que foi providência divina. Porque o Francisco passou muito tempo sem documentação e, quando acharam as informações, ele tinha atualizado o título há duas semanas. E nós o encontramos muito rápido”, conta a tenente-coronel Cristiane.

A videochamada

Confirmada a identidade de Francisco, a PM se mobilizou para que ele pudesse fazer uma videochamada com os irmãos, pai e sobrinhos. Em um dia marcado por muitas emoções, ele foi levado até o Quartel da PM, em Rio Branco, para encontrar, por enquanto virtualmente, a família.

Em uma longa conversa se informou de como estavam todos e conseguiu falar com o pai, que hoje tem 87 anos. “Bênção, pai. Ainda vou lhe ver, estou vivo e com saúde, graças a Deus”, disse, ao ver a imagem do pai na tela do celular.

Francisco conta que assim que soube da PM que teriam encontrado sua família, não segurou as lágrimas. Segundo ele, não imaginava que fosse possível ainda reencontrar algum familiar.

“Quando a viatura chegou perto de mim, já me falaram que eu tinha que ir no quartel da polícia, porque tinham algo para falar sobre minha família. Já me desmantelei no choro, porque nunca imaginava uma coisa dessas. Nunca vou poder agradecer pelo o que fizeram, mas Deus vai dar em dobro”, disse emocionado.

‘É como se fosse um sonho’

Agora, a família está tentando se organizar para que Francisco possa ir à cidade e ver pessoalmente os dez irmãos que moram no Ceará.

“Foi uma emoção muito grande, ainda não tinha caído a ficha. Fizemos então uma chamada e não conseguimos nem falar, só chorar. Era o sonho da minha avó trazer o filho dela pro Ceará de novo, ele é o filho mais velho dela e foi menos de 24 horas pra achar. É como se fosse um sonho”, conta Mayara.

Para a tenente-coronel, poder participar desse reencontro foi gratificante e reforça a missão da PM de se aproximar da comunidade. “A Polícia Militar do Acre tem como doutrina a polícia de aproximação, de polícia comunitária. E também foi graças a isso que foi possível encontrar o Francisco, porque os policiais conhecem os moradores daquela região”, disse.

A própria comandante também não conseguiu conter as lágrimas ao ver o reencontro, por ora virtual, mas que conecta uma família que por tantos anos ficou separada. Para Cristiane, revela também o trabalho humano da PM como instituição e na garantia de direitos.

“A gente marcou esse reencontro; embora não seja de corpo, hoje a tecnologia nos permite, apesar da grande distância, nos conectar. Participar desse momento é muito importante, porque está muito além de segurança pública, é realmente cuidar da população. A Polícia Militar do Acre tem na sua missão bem mais do que a questão criminal, nós temos hoje uma doutrina voltada para a polícia comunitária, a polícia de aproximação, e todas as vezes que a população precisar, nós estaremos prontos para ajudar. Sou muito orgulhosa de pertencer a essa instituição, que tem esse cuidado tão grande com a nossa população”, relata.

 

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