A jovem Milene Bezerra de Araújo, de 18 anos, já tem data para ser mãe. Seu bebê virá ao mundo em menos de um mês – no mais tardar, em 28 de março. Porém, o que era para ser um final de gravidez tranquilo, se tornou aflição após as águas do Rio Acre atingirem sua casa, localizada no bairro Triângulo Novo, em Rio Branco.
Com o marido privado de liberdade, ela não teve escolha a não ser a mudança para os abrigos montados pela prefeitura no Parque de Exposições, onde está há cinco dias. “Nas cheias anteriores a gente foi levado para uma escola. Prefiro lá, porque aqui não é um ambiente muito bom. Mas é o que temos”, lamenta a futura mãe.
Alheio ao que acontece ao redor, o bebê segue em desenvolvimento dentro do corpo de Milene, que não pode largar os exames de rotina em uma fase crucial da gravidez. Ela tem feito o pré-natal no próprio Parque de Exposições, nas estruturas montadas pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) para atender os desabrigados.
Na quinta-feira, 29, ela esqueceu, por alguns segundos, os ruídos de caminhões carregando móveis de desabrigados, que chegavam aos montes, para ouvir, mais uma vez, os batimentos cardíacos de seu bebê. Após a consulta com um dos médicos de plantão, ela foi até a farmácia da prefeitura para retirar os medicamentos prescritos.
“Apesar de toda essa situação triste de desabrigo, fiquei satisfeita com o atendimento. Agora é esperar as últimas consultas e o nascimento do bebê. Tomara que, até lá, nossa vida já tenha voltado ao normal”, disse Milena, que está no Parque de Exposições acompanhada por outras cinco famílias formadas por parentes seus.
Até a publicação desta matéria, o Parque de Exposições contava com 1.876 pessoas desabrigadas pela cheia do Rio Acre, que alcançou, em medição da tarde desta sexta, 17,30 metros de profundidade, atingindo mais de 40 bairros só na capital.