As cheias do Rio Acre e igarapés vão muito além de fenômenos naturais. Elas trazem consigo dor e sofrimento a centenas de famílias, que, a cada evento desse tipo, precisa deixar tudo para trás. É o caso da dona Arlete Tomaz Lopes, de 61 anos, que mora há quase cinco décadas na Rua do Passeio, bairro Taquari, um dos mais afetados pela enchente.
A aposentada já perdeu as contas das alagações vividas, mas lembra de todas as traumáticas ocasiões em que precisou sair de sua casa e recorrer aos abrigos montados pelo poder público no Parque de Exposições. Neste ano, ela chega ao espaço pela quinta vez, ao lado do marido e de parte da família
“Desta vez perdi meu fogão e armário. Agora todo ano vai ser isso?”, questiona, indignada, referindo-se à grande enchente de 2023, que também a deixou desabrigada. “A gente sofre muita humilhação e ninguém faz nada por nós. O que nós e outras famílias precisam é de casa nova onde não alaga”.
Maria Lopes da Rocha, de 47 anos, é filha de dona Arlete e vive com o marido em outra residência, também localizada no Taquari. Ela diz que, no passado, já ganhou casa do governo, mas, por conta da violência, preferiu voltar para o bairro onde nasceu e cresceu.
“A vida nunca fica boa pra quem sempre passa por esse sufoco. Vivemos em pânico. É de enchente a violência. Ninguém tem paz”, lamenta, aos prantos.
Mãe e filha se queixam de sintomas de pressão alta e reclamavam do excesso de sal nas comidas servidas. Procurado pela reportagem, o secretário-adjunto de Assistência Social de Direitos Humanos (SASDH), Francisco Bezerra, reconheceu não haver distinção entre as alimentações. “São quase 2 mil pessoas nos abrigos, não tem como fazer comida separada”.
O gestor, porém, prometeu que irá levar a reclamação à Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), que é quem prepara a comida, para uma reavaliação nos temperos do cardápio.