Dos 15 senadores eleitos no Acre desde a redemocratização do Brasil, 10 são herdeiros políticos, ou seja, possuem vínculos familiares com outros eleitos. É o que diz um levantamento feito pelo cientista político Robson Carvalho, doutorando da Universidade de Brasília (UnB).
E essa não é uma realidade apenas dos acreanos. Segundo o estudo, das 27 unidades federativas, 24 elegeram, ao longo dos últimos 36 anos, pelo menos metade de seus senadores com esse perfil. Fogem à regra apenas o Pará (com 33,33% dos senadores eleitos com a ajuda do sobrenome), Minas Gerais (33,33%) e Rio Grande do Sul (26,67%).
No Acre, os irmãos Tião e Jorge Viana estão entre esses 10 senadores. Filhos do ex-vereador, ex-prefeito de Rio Branco e ex-deputado federal Wildy Viana, os petistas levaram adiante o legado e o nome político do pai, morto em 2017, aos 87 anos.
O mesmo aconteceu com o atual governador do Acre, Gladson Cameli, hoje no Progressistas. Ele é sobrinho do ex-prefeito de Cruzeiro do Sul e ex-governador Orleir Cameli – sendo membro de uma das famílias mais influentes da região do Juruá. Seu tio faleceu em 2013, aos 64 anos.
A ex-senadora pelo PT e atual ministra do Meio Ambiente e Mudanças no Clima, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), é o exemplo oposto. Ela, que veio e ganhou projeção política a partir das bases sociais, não só foi eleita sem o peso do sobrenome, como é uma das somente quatro mulheres negras a obter vitória nas urnas para o Senado em 36 anos.
Famílias poderosas
A conclusão do pesquisador Robson Carvalho, que fez um raio-x da composição da casa legislativa desde 1986, é que, no Brasil, o Senado é ocupado, majoritariamente, por “famílias poderosas” – o que, na sua visão, acarreta prejuízos à representação democrática da sociedade brasileira no Parlamento.
Em todo o Brasil, foram eleitos, desde a redemocratização, 407 senadores. Destes, 274 (ou 67%) herdaram o capital político da família. O fenômeno, segundo o pesquisador, acontece na direita e na esquerda, entre os “mais diversos partidos”.
“O que a gente tem na prática é que, muitas vezes, a condução das instituições públicas é tratada como se fossem capitanias hereditárias. Parecem suceder a si mesmas, como numa monarquia, onde o poder é transmitido por hereditariedade e consanguinidade”, afirmou.