Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Dois em cada três senadores eleitos no Acre desde 1986 são herdeiros políticos

Dois em cada três senadores eleitos no Acre desde 1986 são herdeiros políticos

Dos 15 senadores eleitos no Acre desde a redemocratização do Brasil, 10 são herdeiros políticos, ou seja, possuem vínculos familiares com outros eleitos. É o que diz um levantamento feito pelo cientista político Robson Carvalho, doutorando da Universidade de Brasília (UnB).

E essa não é uma realidade apenas dos acreanos. Segundo o estudo, das 27 unidades federativas, 24 elegeram, ao longo dos últimos 36 anos, pelo menos metade de seus senadores com esse perfil. Fogem à regra apenas o Pará (com 33,33% dos senadores eleitos com a ajuda do sobrenome), Minas Gerais (33,33%) e Rio Grande do Sul (26,67%).

No Acre, os irmãos Tião e Jorge Viana estão entre esses 10 senadores. Filhos do ex-vereador, ex-prefeito de Rio Branco e ex-deputado federal Wildy Viana, os petistas levaram adiante o legado e o nome político do pai, morto em 2017, aos 87 anos.

O mesmo aconteceu com o atual governador do Acre, Gladson Cameli, hoje no Progressistas. Ele é sobrinho do ex-prefeito de Cruzeiro do Sul e ex-governador Orleir Cameli – sendo membro de uma das famílias mais influentes da região do Juruá. Seu tio faleceu em 2013, aos 64 anos.

A ex-senadora pelo PT e atual ministra do Meio Ambiente e Mudanças no Clima, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), é o exemplo oposto. Ela, que veio e ganhou projeção política a partir das bases sociais, não só foi eleita sem o peso do sobrenome, como é uma das somente quatro mulheres negras a obter vitória nas urnas para o Senado em 36 anos.

Famílias poderosas

A conclusão do pesquisador Robson Carvalho, que fez um raio-x da composição da casa legislativa desde 1986, é que, no Brasil, o Senado é ocupado, majoritariamente, por “famílias poderosas” – o que, na sua visão, acarreta prejuízos à representação democrática da sociedade brasileira no Parlamento.

Em todo o Brasil, foram eleitos, desde a redemocratização, 407 senadores. Destes, 274 (ou 67%) herdaram o capital político da família. O fenômeno, segundo o pesquisador, acontece na direita e na esquerda, entre os “mais diversos partidos”.

“O que a gente tem na prática é que, muitas vezes, a condução das instituições públicas é tratada como se fossem capitanias hereditárias. Parecem suceder a si mesmas, como numa monarquia, onde o poder é transmitido por hereditariedade e consanguinidade”, afirmou.

Sair da versão mobile