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A coisificação e o exercício de manipular

A teoria da integração move o pensamento e o leva à ação, na medida em que trabalhamos o conceito e desenvolvemos o sentido dividimos a responsabilidade para alcançar a compreensão; as meditações não saem do lugar, preocupados com a causa os filósofos não vão além do efeito, de Descartes até Voltaire as letras filosóficas e literárias influenciaram a vida pública o quanto puderam, mexeram e remexeram na opinião.
A influência de Rousseau teve a força da determinação, muita gente mudou e passou a defender a ciência, os discursos rousseaurianos são verdadeiros chamados, a tribuna ganhou o parlamento para falar com o vigor da garganta, era possível dar gritos e conter os aplausos; Kant representa a antítese, o professor de filosofia recolhido em seu silêncio é consciente de que as palavras ampliam o entendimento, o fato é que o espírito do povo passou a ser definido pelas transformações que criticam a opinião para aprofundá-la em sua verdade.

Fichte atua contra Kant e a favor do idealismo, ele vive o tormento dos contrastes que se digladiam no tumulto das possessões, o eu imperioso no entanto fala para a multidão e se coloca diante de si mesmo, os seus discursos são inflamados e têm a verve manipuladora; já não se trata mais de influir e se retirar, a questão era separar-se para possibilitar a manipulação, quando ele compara a realidade e a ficção está falsificando a realidade e excitando a imaginação, podemos dizer que em seus discursos Fichte age de má-fé. A acusação de Sartre é condenatória, ignorando o outro que surge como uma diferença para acentuar sua inadequação o orador transforma o conhecimento em uma arma que ele aponta para gente completamente desprevenida, com a intenção de iludir o manipulador não faz mais do que tirar o outro de si mesmo para aliená-lo.
A alienação enfraquece o juízo e torna a pessoa passiva ao ponto de coisificá-la, a coisificação se aproveita da fraqueza para introduzir no outro a infelicidade, que é o estado mais completo da miséria, eu me refiro àquela miséria que já não faz sentido nem causa dor, você só quer morrer.
Tobias Barreto diz que o orador não vive numa época propícia aos discursos palavrosos e fingidos, aos quais falta a vergonha e sobra atrevimento, “o orador hodierno, o grande orador mesmo, e me refiro aos grandes, assemelha-se a um genial tocador de viola: admirável, estupendo, sublime, mas sempre anacrônico, sempre fora de seu tempo, e como tal um pouco ridículo”; quero dizer que a dignidade e a sinceridade contam muito pouco para salvar o orador da reprovação e da impaciência do público, o cidadão talvez tenha ficado mais exigente e certamente o trabalhador se cansou da exploração, o estado amorfo das massas entorpece e ninguém nasceu para ser escravo de ninguém.

O discurso hoje tem que vingar o sangue e fazer a história, tem que criar o afeto e falar a verdade, não basta que sintamos a emoção que tudo isso até comove, é preciso falar para ser entendido, quem entende as palavras almeja compreender o conceito; neste sentido em que desenvolvemos o argumento para estruturar o discurso que se enche de razão as letras se pronunciam pátrias, capazes de soar como um hino dedicado à nação que compreendemos em seu povo. A sensatez e a lucidez são indispensáveis para identificar os sinais e reconhecer as marcas, percebemos que a figura é de carne e osso quando descrevemos o tipo, mas para ouvi-lo precisamos conhecer a pessoa, o seu coração deve ser um santuário de coisas boas porque hoje, via internet, é fácil comprovar o caráter real de uma pessoa.

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