Quarta-feira passada fui ao dermatologista, vou duas vezes por ano pra olhar meus sinais. Dessa vez, ele achou que valia tirar um pretinho nas costas, fiquei com uma pena, eu amava esse sinal. Mas como me ensinou meu pai, sou uma doente sabida. O que na tradução dos D´Albuquerque – família de médicos, meu pai incluído – quer dizer uma doente obediente. O médico mandou, você faz. Vale pra exame, remédio, tratamento, fisioterapia, prazos e afins. Pois que mandou tirar e eu disse “vamos nessa!”. “Mas já quer tirar hoje, Rô?”. “Opa, tira aí”. Ele tirou, senti até o cheiro de queimado do bisturi elétrico. Saí do consultório com meu sinal num potinho. Era bem mais bonito nas costas do que agora solto e afogado em líquido conservante. Dr. Fábio me explicou que era preciso levar ao laboratório para uma biópsia, “Não tem pressa, mas não custa nada, né?”. Sim, não custa nada. Não dava pra levar no mesmo dia, porque voltei direto para as sessões da tarde. Deixei o potinho em cima da mesa de trabalho e atendi das 15h até às 20h na quarta, e das 07h até o meio dia na quinta, quando finalmente consegui uma brechinha para o laboratório. A cada intervalo, toda vez que eu olhava pro potinho, cantava na minha cabeça: “oh, pedaço de mim, oh metade arrancada de mim”. Uma adaptação respeitosa da música de Chico Buarque que trata de assunto muito mais sério do que este.
Quando eu voltei da licença maternidade da Sofi, minha mais nova, nada podia evitar que do elevador de casa até o elevador do trabalho, eu cantasse ora com som, ora sem: “eu não caibo mais nas roupas que eu cabia… Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia? Eu não vou me adaptar, me adaptar, não vou me adaptar, me adaptar não”. Essa parte eu repetia até doer o peito. Pedi demissão uns seis meses depois.
Quando eu dei a minha primeira entrevista na CBN, passei o tempo todinho que tava no estúdio com várias camadas de pensamento na cabeça, o que eu tinha que responder, o que eu tinha que dizer mesmo que ninguém me perguntasse, o que eu não podia dizer de jeito nenhum e a música da Academia da Berlinda: “Na vida, desde pequeno, fui humilhado. Quando eu chegava nas gatinhas, não era considerado. Só porque eu era magrinho cara de marginal. Agora que estou na mídia sou um cara legal”.
Amo essa música. Tem a primeira parte dela também, já dei uma cantada aqui e ali. Mas péra a semana tá começando ainda, não vou ficar aqui contando a minha vida toda pra vocês não, oxe! Bora trabalhar? Boa semana, queridos