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Antídoto

Todos em geral, desconfiam da filantropia. Por bons motivos. É comum ver ricos filantropos dando entrevistas em que se manifestam veementemente contra qualquer tipo de tributação de caráter redistributivo. Argumentam, às vezes, que o investimento público é sempre “ineficiente“; outras vezes, que a taxação retira o “mérito“ da doação. Esse último argumento evoca a figura do “pobre funcional”, que Umberto Eco e Marisa Bonazzi detectaram no seu estudo sobre livros escolares italianos de meados do século passado. Ele é a peça-chave de “um universo de doações e graças recebidas, do qual está ausente a palavra ‘direito’”. Ou seja: a pobreza precisa existir, pois cumpre a função essencial de salvar a alma dos ricos.
Acredito que nem é isso, quantos ricos parecem preocupados com suas almas imortais, nos dias que correm?
Ser contra à tributação é, em primeiro lugar, ideológica, trata-se de proteger a propriedade privada, cuja santidade, essa sim, seria indiscutível.

A filantropia tem muitas vantagens. Limpa a imagem, faz relações públicas, mantém o controle nas mãos dos proprietários, permite que se exija o “bom comportamento” dos beneficiados. Mas a filantropia se aproxima de outro valor, esse sim indispensável: a solidariedade.
A solidariedade é o nosso antídoto contra o individualismo dominante no mundo atual. Não elimina, muito pelo contrário, os reclamos por justiça social e pelo fim das opressões: se une a eles.
A solidariedade é a resposta possível em situações que exigem ação urgente. Como agora no Rio Grande do Sul. Precisamos de medidas de médio e longo prazo, de prevenção de cheias e combate ao colapso climático.
Necessitamos organizar nossa indignação contra os políticos e empresários que hoje expressam hipocritamente sua consternação, mas que trabalham noite e dia para destruir a legislação ambiental.
É preciso também de ajuda para minorar o sofrimento das vítimas e permitir que elas retomem ou reconstruam suas vidas. Algumas, já se sabe, não será mais possível, pelo horror que estamos acompanhando.
Convém evitar os golpistas (tragédias também trazem à tona o pior da humanidade) e escolher uma instituição confiável para fazer uma doação.

É possível doar dinheiro, alimentos, água, roupas, fraldas, produtos de higiene pessoal, material de limpeza, cobertores. Tem várias opções que merecem nosso apoio, devemos pesquisar os canais oficiais e fazermos sim nossa doação seja de quanto for, se pudermos.
Se você tem como, não deixe de ajudar.

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