Duas equipes de cientistas descobriram um planeta teoricamente habitável, menor que a Terra, mas maior que Vênus, orbitando uma pequena estrela a cerca de 40 anos-luz de distância.
O exoplaneta, chamado Gliese 12b, orbita uma estrela anã vermelha fria situada na constelação de Peixes e tem cerca de 27% do tamanho do nosso Sol e 60% da sua temperatura, de acordo com dois estudos publicados na quinta-feira (23) nas revistas The Astrophysical Journal Letters e Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Um exoplaneta é um planeta que está fora do Sistema Solar.
Como sua estrela é muito menor que o Sol, Gliese 12b ainda está dentro da zona habitável — a distância ideal de uma estrela onde a água líquida pode existir — mesmo completando sua órbita a cada 12,8 dias.
Trabalhando com a suposição de que o exoplaneta não tem atmosfera, os cientistas calcularam que sua temperatura superficial é de cerca de 107 graus Fahrenheit (42 graus Celsius).
“Nós encontramos o mundo temperado, de tamanho semelhante ao da Terra, em trânsito, mais próximo localizado até hoje”, disse Masayuki Kuzuhara, professor assistente no Centro de Astrobiologia em Tóquio e co-líder de uma das equipes de pesquisa com Akihiko Fukui, professor assistente na Universidade de Tóquio, em um comunicado.
Uma vez identificados planetas temperados de tamanho semelhante ao da Terra, os cientistas podem então analisá-los para determinar quais elementos estão contidos em suas atmosferas e, crucialmente, se há água presente para sustentar a vida.
“Há apenas um punhado (de exoplanetas) que encontramos que são bons candidatos para isso. E este é o mais próximo de nós, então é uma descoberta bastante importante”, disse Larissa Palethorpe, doutoranda na Universidade de Edimburgo e na University College London, que co-liderou o outro estudo, à CNN na sexta-feira (24).
Compreendendo Gliese 12b
Para identificar Gliese 12b, os cientistas utilizaram os dados disponíveis publicamente coletados pelo Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) — um telescópio que observa dezenas de milhares de estrelas todos os meses, rastreando suas mudanças de brilho, o que pode ser evidência de exoplanetas em órbita.
É mais fácil para os astrônomos encontrar exoplanetas orbitando estrelas anãs vermelhas, já que seu tamanho relativamente pequeno resulta em um efeito de escurecimento maior durante cada trânsito.
No momento, os cientistas não têm certeza de qual é a constituição da atmosfera desse planeta, se é que ele possui uma, e se há água presente, embora Palethorpe tenha dito que não esperam encontrar água ali.
“Pode não haver água, e então sabemos que um efeito estufa descontrolado já aconteceu neste planeta e ele é mais parecido com Vênus”, disse ela. “Pode haver água, caso em que é mais parecido conosco… ou há assinaturas que podem ser detectáveis e que mostrariam que o efeito estufa descontrolado está em progresso, então ele poderia estar perdendo água.”
Para a próxima fase de análise da atmosfera do exoplaneta, os cientistas esperam usar o Telescópio Espacial James Webb para realizar análises espectroscópicas. Esse método envolve capturar a luz das estrelas que passa pela atmosfera de um exoplaneta e ver quais comprimentos de onda são absorvidos por certas moléculas, revelando sua presença na atmosfera.
Além de esclarecer sobre o próprio exoplaneta, Palethorpe disse que os cientistas esperam que esse trabalho possa nos ajudar a entender melhor nosso próprio planeta.
“O que este planeta nos ensinará, em particular, é o que aconteceu para a Terra permanecer habitável, mas Vênus não… Isso pode nos contar os caminhos de habitabilidade que os planetas seguem à medida que se desenvolvem”, disse ela.
Mas embora o exoplaneta possa potencialmente ser habitável para os humanos e esteja relativamente “próximo” ao nosso Sistema Solar em termos astronômicos, é improvável que alguém o visite em breve.
“Não é alcançável, está a 12 parsecs de distância”, disse Palethorpe, acrescentando que levaria cerca de 225 mil anos para chegar a Gliese 12b com a espaçonave mais rápida que existe atualmente.
Reportagem da CNN Brasil