O pensionista Osmar Gomes Pereira, de 71 anos, precisou remar por duas horas para fugir da enchente provocada pelo Rio Taquari, em Mariante, a vila gaúcha centenária onde moravam mais de 4 mil pessoas e que foi varrida pela enchente no município de Venâncio Aires (RS). Normalmente, o rio fica a 4 quilômetros de distância da casa do Seu Osmar.
Na madrugada do dia 2 de maio, as águas invadiram a casa construída a três metros do chão pelo seu filho, Adriano. A cheia chegou a um metro e meio por volta de 4h, quando Osmar colocou a esposa, Adélia Gonçalves dos Santos, o filho e cinco cachorros no barco de metal da família e remou cerca de 1,5 quilômetro. Foram 2 horas até encontrar terra segura.
“Eu achei que no dia 2 [de maio de 2024], que nós íamos morrer aqui dentro de casa”, conta Osmar ao g1, no dia 14 do mesmo mês. O idoso permanecia na casa, à beira da RS-287, que teve pedaços engolidos pela força do excesso de água do Rio Taquari.
A insistência de permanecer na casa se deu porque criminosos saquearem casas em Mariante e áreas do entorno que foram atingidas pelas enchentes. Osmar resolveu passar a noite no local para não perder o pouco que sobrou.
“Eu tique que vir pousar aqui, porque… para não abandonar. Para sempre ter uma referência de uma pessoa”, conta. “Já foi falado que os barcos vinham, carregavam e se mandavam, E as pessoas estão tudo com medo”.
No entanto, o idoso afirma que há policiamento na região. “A polícia estava aqui essa noite. Duas vezes eu conversei com eles em cima da faixa [da estrada], que eles vieram fazer a ronda”.
Vila devastada
Mariante é um distrito do município de Venâncio Aires, a 130 km da capital Porto Alegre, que fica nas margens do Rio Taquari. A região foi devastada pelas cheias que atingiram o Rio Grande do Sul nos dias 1º e 2 de maio.
Cerca de 4,8 mil pessoas vivem no distrito e nos arredores. Todos tiveram que deixar suas casas e precisaram ir para casa de amigos e parentes ou, então, para abrigos criados pela prefeitura. Cerca de 250 ainda estão nessa situação.
Até a noite de segunda-feira, as enchentes no Rio Grande do Sul deixaram 157 mortos e mais de 650 mil pessoas fora de casa.
O prefeito do município, Jarbas da Rosa (PDT), estima que 90% de Mariante foi destruído ou danificado pela cheia. Segundo ele, será feita a reconstrução do local.
“A vila Mariante vai continuar. Mas ela vai ter uma nova infraestrutura, uma nova dinâmica. Nós temos uma das maiores empresas do município, que está instalada em Vila Mariante, que é um frigorífico, e há planejamento da empresa de que em 30 dias se restabeleça, faça as reformas adequadas e que volte a operar. Então, vila Mariante não acabou.”
A Prefeitura de Venâncio Aires pretende construir aproximadamente 500 imóveis para atender as pessoas desabrigadas. A intenção é buscar apoio dos governos federal e estadual para levantar as novas casas.
Fonte: g1