Microplásticos foram encontrados nos tecidos dos testículos de humanos e cães, o que leva a um aumento da preocupação sobre os efeitos da poluição na saúde reprodutiva das espécies. O estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Novo México foi publicado no último dia 15 no periódico Toxicological Sciences.
Os cientistas detectaram 12 tipos de microplásticos nos testículos de 47 cães e 23 humanos. Eles usaram um método que avalia a quantidade desses microfragmentos nas amostras de tecido, ao relacionar certos tipos de plástico e a redução da contagem de espermatozoides.
As amostras de tecido humano e canino foram coletadas em abrigos e clínicas veterinárias. Em seguida, a equipe as tratou quimicamente para remover gordura e proteínas, e as centrifugou para separar um pedaço de plástico no fundo de um tubo. Então, aqueceram o microfragmento a 600ºC em um copo de metal e analisaram as emissões de gás usando um espectrômetro de massa para identificar os diferentes tipos de plástico presentes, cada um queimando em uma temperatura específica.
“No início, duvidei que microplásticos pudessem penetrar no sistema reprodutivo”, disse Xiaozhong ‘John’ Yu, MD, PhD, MPH, professor da Faculdade de Enfermagem da UNM e líder da pesquisa, em comunicado. “Quando recebi os primeiros resultados dos cães, fiquei surpreso. Fiquei ainda mais surpreso quando recebi os resultados dos humanos.”
A concentração média de microplásticos no tecido testicular dos cães foi de 122,63 microgramas por grama de tecido, enquanto nos humanos era de 329,44 mcg/g. A concentração no tecido humano foi quase três vezes maior do que nos cães e significativamente maior do que a encontrada no material placentário.
A pesquisa revela que o polímero mais comum nos tecidos humanos e caninos era o polietileno (PE), usado em sacolas e garrafas plásticas. Nos cães, o segundo polímero mais encontrado foi o PVC, utilizado em encanamentos industriais, municipais e domésticos, entre outros usos.
Em relação aos espermatozoides, o estudo revelou que os níveis mais elevados de PVC no tecido testicular estavam associados a uma contagem reduzida. Entretanto, não houve correlação com a concentração de PE no tecido.
“O plástico faz diferença, que tipo de plástico pode estar correlacionado com a função potencial”, conta o professor. “O PVC pode liberar muitos produtos químicos que interferem na espermatogênese e contém produtos químicos que causam disfunção endócrina.”
O estudo comparou tecido humano e canino por várias razões, como a relação de proximidade entre as duas espécies e o compartilhamento de ambiente. Yu também destaca que, comparados a ratos e outros animais, os cães estão mais próximos dos humanos.
O pesquisador afirma que, fisicamente, a espermatogênese dos cachorros é mais similar a dos humanos, assim como a concentração de espermatozoides. Ele acrescentou que a contagem de espermatozoides em cães também parece estar diminuindo e acredita que fatores ambientais comuns contribuam para esse declínio entre os dois mamíferos.
Teste de viabilidade do esperma — Foto: Wikimedia Commons
Os microplásticos são formados quando o plástico é exposto à radiação ultravioleta do sol e se degrada em aterros sanitários. Essas pequenas partículas podem ser dispersas pelo vento ou transportadas para cursos d’água próximos, algumas tão pequenas que são medidas em nanômetros. Conforme o uso global de plásticos continua a crescer, mais os microplásticos são encontrados no ambiente.
Um estudo observou que a idade média dos homens nas amostras de autópsia do Instituto de Medicina Legal era de 35 anos, indicando que sua exposição aos plásticos começou décadas atrás, quando havia menos plástico em circulação. Com a quantidade atual de plástico no ambiente, o impacto na geração mais jovem pode ser ainda mais preocupante.
Após a divulgação das descobertas, Yu não quer que ninguém entre em pânico. “Queremos fornecer cientificamente os dados e conscientizar as pessoas de que existem muitos microplásticos. Podemos fazer nossas próprias escolhas para evitar melhor exposições, mudar nosso estilo de vida e mudar nosso comportamento”, conclui ele.
Fonte: Revista Galileu