Em um gesto de solidariedade e empatia, um grupo de amigas umbandistas se uniu para apoiar a servidora pública da Universidade Federal do Acre, Karen Cristina Melo da Silva, durante seu tratamento contra o câncer de mama. Aos 37 anos, Karen tem enfrentado uma jornada desafiadora desde que recebeu o diagnóstico em novembro de 2023.
Ela e as suas mães e irmãs de santo rasparam a cabeça nessa quarta-feira, 15, em um momento de renascimento e fortalecimento emocional.
Karen, que é umbandista, encontrou força em sua fé desde o primeiro momento em que descobriu o nódulo em seu corpo. Ela relembrou como foi o processo do diagnóstico e a jornada do tratamento. A servidora pública diz que, desde então, tem contado com o apoio fundamental de sua família, amigos e comunidade religiosa.
“Tive muita sorte porque eu senti o nódulo muito cedo. Eu estava tomando banho quando senti e, de imediato, busquei investigar o que seria. E quando eu peguei o documento com o resultado, veio aquele choque, mas sempre com pensamento positivo. Hoje está sendo muito importante esse pensamento de crescer, de melhorar e de extrair o melhor do que tá acontecendo comigo melhor. Recebi o meu diagnóstico em novembro de 2023 e desde então a gente já iniciou o processo de encaminhar pro tratamento. Faço meu tratamento no Hospital do Amor de Porto Velho. Primeiramente eu comecei pela cirurgia. Em fevereiro fiz um quadrante, não foi necessário remover toda a minha mama. E atualmente eu estou na segunda fase, que é a quimioterapia. A terceira fase é a radioterapia”, conta.
Rede de amor e solidariedade
A servidora pública disse que tem procurado levar esse processo de tratamento o mais leve possível, porque ele já é muito difícil. Para ela, a queda de cabelo, uma consequência da quimioterapia, representou um desafio emocional significativo, mas suas amigas estiveram ao seu lado, proporcionando amor, apoio e uma sensação de renovação.
“As minhas amigas são maravilhosas. Minhas irmãs de Santo, irmãs de fé, minha mãe de Santo. Para uma mulher, a queda do cabelo representa muita coisa, porque ele é o espelho do que tu está vivenciando na tua vida. Então, para uma mulher, o cabelo é uma história. E eu sempre fui muito vaidosa, muito cuidadosa comigo, com a minha aparência física. E pra mim estava sendo um processo desde o dia que eu descobri. Porque eu sabia que era algo que quando eu raspasse, fisicamente ia impactar pra mim e para as pessoas que me vissem. Então, esse apoio delas foi muito importante. Elas tornaram para mim esse momento, que foi tão pesado, numa coisa leve.”
Karen resumiu em uma frase o sentimento de ter as amigas ao seu lado nesse momento: “Foi um ato de apoio, de ressignificar as palavras amizade e união.”
A servidora pública também expressou sua gratidão pelo atendimento recebido durante seu tratamento, especialmente no momento em que passou mal após a primeira sessão de quimioterapia.
“Esses dias eu fiz a quimioterapia e logo me internei. Minha imunidade baixou muito por causa da medicação muito forte e eu recebi um apoio incrível. Eu realmente fui muito bem recebida no Hospital do Câncer, no UNACON. Eles me ajudaram demais. Eu fui realmente num estado um pouco crítico. A direção do hospital foi super solidária. Eu fui muito bem atendida pelos profissionais que estavam ali na emergência. E eu não tenho palavras para descrever o que foi aquele acolhimento que eu senti. Comecei meu tratamento em Porto Velho, mas eu vou precisar também desse apoio aqui em Rio Branco e eu vi que eu tenho na minha terra esse acolhimento.”
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Processo de renascimento
A dirigente espiritual da Tenda de Umbanda Luz da Vida, Mãe Marajoana de Xangô, foi quem raspou a cabeça de Karen e, em seguida, também cortou o próprio cabelo. Ela expressou a importância do apoio mútuo durante momentos difíceis.
“A gente sabe que a luta de quem está passando por esse processo do câncer é diária, mas a gente busca tentar fortificar, dizer que estamos juntos nessa corrente. Dizer que estamos em orações. Então, foi esse o processo de a gente fazer junto com ela, de renascermos juntas com ela e com todos aqueles que estão dentro do tratamento. E que Olorum possa vir a abençoar, possa vir fortificar, trazer a cura, o auxílio daqueles que estão passando nesse momento essa dificuldade. Foi gratificante e maravilhoso segurar na mão como uma corrente, com todas as nossas irmãs que estavam junto com a gente, de levar esse momento com leveza, com alegria, com fortalecimento e com tudo aquilo que Olorun nos preserva, que cada momento da nossa vida, por mais difícil que venha a ser, mas tudo é uma consciência e é uma cura do ser.”
A jornalista Maria Meirelles foi uma das amigas que raspou a cabeça. Ela disse que o ato simbólico não apenas reforçou os laços de amizade, mas também representou uma mensagem de esperança e resiliência. Maria expressou ainda sua confiança na cura da amiga.
“Desde que eu soube do câncer, em meu coração, só há espaço para a certeza de que a cura já está acontecendo. Raspar a cabeça foi um gesto de apoio e também de mergulho interior, proporcionado a partir do processo de cura Karen. Tenho certeza que ela vai sair vitoriosa dessa batalha”, afirmou.
Em apoio a Karen, a professora Thays Cavalcante também raspou a cabeça. As amigas e irmãs de santo, Biatriz Melo e Júlia Figueiredo cortaram o cabelo. Outros membros da Tenda de Umbanda de Luz da Vida também aderiram ao novo visual para apoiar a irmã.