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Não normalizemos a anormalidade

Parece que nada de novo está acontecendo na Palestina. Todos os dias, uma repetição das mesmas cenas pungentes: escolas bombardeados, crianças mortas e mutiladas, pessoas passando fome, soldados israelenses gravando vídeos de dancinha diante de prisioneiros torturados ou de destroços.

Esse “nada de novo” é, na verdade, o cotidiano do horror. A contagem de crianças mortas sobe aos milhares. Mas cada criança morta é uma nova criança, é uma nova vida interrompida, são sonhos de uma nova pessoa ceifados antes que pudessem sequer se estabelecer, são novas famílias enlutadas.

A continuidade do horror não deveria diminui-lo. Pelo contrário, torna-o ainda mais desesperador. Enquanto o genocídio continuar na Palestina, temos o dever de não desviar os olhos

Às vezes, alguém diz: mas com tantos problemas aqui mesmo, no Brasil, por que vamos nos preocupar com algo que está acontecendo tão longe? Sim, temos muitos problemas aqui mesmo. Enfrentamos uma sociedade vez mais agressiva, temos padrões absurdos de violência contra grupos tão expressivos quanto mulheres, crianças, a população negra, os povos indígenas, a comunidade LGBT…

Mas o que está acontecendo na Palestina é o extermínio de todo povo por uma potência militar colonial. Não são nossos vizinhos, estão a milhares e milhares de quilômetros de distância, mas fazem parte da mesma humanidade que nós.

Kant dizia que a capacidade de nos sensibilizarmos com aquilo que não afeta diretamente a nossa vida comprova o “caráter moral da humanidade”. No momento em que, tantas vezes, parece tão difícil acreditar nesta humanidade, a mobilização mundial crescente em favor do povo palestino é um alento.

Sim, não podemos descuidar das pautas que nos estão próximas. Mas também não podemos deixar de dar a nossa contribuição à pressão internacional para que o genocídio cesse e para que o povo palestino seja reconhecido com direito a seu próprio território.
Essa é uma exigência da nossa humanidade.

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