Localizada a 300 milhões de anos-luz, a galáxia SDSS1335+0728 já era conhecida e observada há mais de duas décadas. Inicialmente, este distante sistema parecia calmo e “adormecido”. No entanto, ao final de 2019, a galáxia começou subitamente a brilhar mais do que nunca, como se tivesse sido “ligada”.
Um novo estudo publicado no periódico Astronomy & Astrophysics e divulgado hoje (18) utilizou dados de vários observatórios espaciais e terrestres, incluindo o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (VLT do ESO), para monitorar as variações de brilho desta galáxia. Os pesquisadores acabaram descobrindo que existe um buraco negro despertando em seu núcleo – algo nunca antes visto e documentado na astronomia.
A emissão de luz por galáxias inativas pode acontecer por diversos motivos, como, por exemplo, explosões de supernovas ou pela destruição de uma estrela por um buraco negro. Contudo, essas variações geralmente duram apenas alguns dias. Por sua vez, a SDSS1335+0728 continua a brilhar cada vez mais intensamente com o passar do tempo, mesmo após quatro anos desde que foi observada “ligando”.
Esse brilho prolongado levou os cientistas a tentar entender os motivos por trás desse fenômeno, utilizando uma combinação de dados de arquivo e novas observações de diversas instalações, incluindo o instrumento X-Shooter, acoplado ao VLT do ESO, localizado no deserto chileno do Atacama. O dispositivo é usado na análise das explosões de energia mais violentas e distantes do universo.
A partir desse conjunto de informações, foi possível concluir que um buraco negro massivo foi ativado no núcleo da galáxia. “Esses monstros gigantes geralmente estão dormindo e não são diretamente visíveis”, explica Claudio Ricci, coautor do artigo e pesquisador da Universidade Diego Portales, no Chile, em comunicado. “No caso da SDSS1335+0728, pudemos observar o despertar do buraco negro massivo, [que] de repente começou a banquetear-se com o gás disponível no seu entorno, tornando-se muito brilhante.”
Os buracos negros massivos possuem massas que excedem cem mil vezes a do Sol e geralmente residem no centro das galáxias. Ainda não se compreende completamente como e de que maneira esses gigantes despertam. De forma inédita, este é o primeiro registro do despertar de um buraco negro sendo observado em tempo real.
Contudo, os pesquisadores reforçam que observações adicionais sejam feitas para descartar outras possibilidades, como a de que o brilho seja produto de um evento de perturbação de mares incomumente lento ou até mesmo um novo fenômeno.
“Independentemente da natureza das variações, [esta galáxia] fornece informações valiosas sobre como os buracos negros crescem e evoluem”, afirma Sáez. “Esperamos que instrumentos como o MUSE no VLT sejam fundamentais para a compreensão [de porque é que a galáxia está brilhando].”
Fonte: Revista Galileu