Sabe aqueles posts que aparecem no feed do instagram de contas que a gente não segue? Os meus são normalmente sobre macaquinhos – é uma fase, vai passar -, gatos, poesia, memes e joias. Eu não compro joias, certo? Claro. Mas gosto de ver, como quem vai no museu. Enfim, hoje, me apareceu um fora desse grupo. Era uma mulher se vestindo em um closet cheio, bem cheio, “essa calça vai é TU-DO!”, “põe desse jeito por dentro da bota”, “levanta a gola sem deixar arrumadinho demais”, “joga assim a manta”, “olha o bolso dessa camisa oversized de veludo cotelê, é o máximo”. Parei no vídeo, tenho pouquíssimo interesse em fazer parte da escolha da roupa de alguém, juro por deus, mas parei.
É que tinha uma coisa que ela repetia que me chamou atenção. Abotoava a manga da camisa e dizia:“assim é uma senhorinha de 65 anos”. Dobrava, sorria pra câmera e soltava: “agora é um mulherão de 69”. Entrei no perfil, parece que a “senhorinha de 65” é um jargão. Gostei da ideia do mulherão ser mais velho do que a senhorinha.
Ontem assisti a Enquanto somos jovens de Noah Baumbach. O filme conta a história de um casal de 40 e poucos e um de 20 e pouquinhos que se conhecem, meio que por acaso, e vão desenvolvendo uma amizade. Há um encantamento entre eles, em especial vindo dos mais velhos em relação aos mais novos. Entendo. Também me pego encantada com o frescor de alguém que experimenta a vida adulta com ar novidadeiro. Só que é um encantamento de outra ordem, sabe? Não tenho a mínima vontade de voltar aos 20. Acho lindo, foi massa, mas eu penso que o frescor é produto sem prazo de validade.
Uma vez nos juntamos pra fazer uma faxina em casa – as meninas, o pai delas e eu – e descobrimos uma canela em pó que tinha vencido antes da Sofi nascer. A gente deu tanta risada disso. As duas se impressionaram grandemente. Acho que mais com o fato de que havia vida antes delas, do que com o nosso desleixo. Eu nem sabia que canela estragava. Penso um pouco assim sobre a nossa capacidade de sentir o novo. Há muitos novos a serem vividos por mulherões de 69, por exemplo.
Tudo isso dito diante do pronunciamento do Biden de ontem. Fico aqui no desejo de que hoje ele tome café da manhã na chave do alívio. De que faça sol em Washington e que o cozinheiro da casa branca decida, meio do nada, acrescentar canela em alguma receita. Boa semana, queridos. Faz uma faxina e uma receita aí que eu faço daqui. A vida acaba mesmo, mas enquanto não acabar, dá tempo de se encantar um monte ainda.