Pesquisadores da Universidade Chinesa de Hong Kong fizeram uma descoberta importante na busca por métodos mais ágeis no diagnóstico do autismo: existem diferenças importantes entre os micróbios que estão no intestino de pessoas com autismo, quando comparadas àquelas sem a condição. Isso sugere que é possível identificar o autismo em crianças de forma precoce, a partir de exames de fezes.
Os resultados vieram a público em um artigo publicado na revista Nature Microbiology nesta semana.
A pesquisa envolveu a análise de amostras de fezes de 1.627 crianças, com idades de 1 a 13 anos. Entre elas, algumas eram autistas. A ideia era fazer um mapeamento completo da microbiota intestinal dos voluntários, identificando quais bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos estavam presentes ali.
Entre as crianças autistas, foram detectadas 51 tipos de bactérias, 18 vírus, 14 arqueas (microrganismos sem núcleo celular) e sete fungos diferentes. O passo seguinte foi usar uma inteligência artificial (IA) treinada por machine learning para encontrar padrões nas amostras.
Usando o algoritmo, os cientistas conseguiram identificar quais crianças eram autistas e quais não com até 82% de precisão. Além disso, diferenças nas vias metabólicas (reações químicas que convertem moléculas) ligadas ao neurodesenvolvimento entre as crianças também apareceram.
“Embora fatores genéticos desempenhem um papel substancial no autismo, a microbiota pode atuar como um fator contribuinte ao afetar respostas imunes, a produção de neurotransmissores e vias metabólicas”, disse Qi Su, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, em entrevista ao jornal The Guardian. “Isso não implica necessariamente causalidade, mas sugere que a microbiota pode influenciar a gravidade ou expressão dos sintomas do espectro autista”.