“Perdoe, pequena”, “Errei, fui Raulzito”: essas são algumas das palavras-chave usadas como códigos de pedófilos. Abusadores usam essas expressões para marcar fotos de crianças que chamam a atenção deles nas redes sociais.
Algumas, à princípio, parecem comentários inofensivos… “Perdoe, pequena”, por exemplo, é uma fala de um famoso vilão em um filme de super-herói, sem nenhuma conotação sexual.
“Errei, fui Raulzito” faz referência a um influenciador digital que está preso por crimes sexuais contra menores.
A equipe do Fantástico acompanhou por quatro meses salas de bate papo e grupos de trocas de mensagens para preparar uma reportagem sobre como o comércio de imagens de crianças ocorre livremente na internet.
Lives para pedófilos
A prática criminosa de compartilhar imagens de abuso sexual infantil ocorre desde a década de 1980, com o surgimento da internet. Para Thiago Tavares, presidente da Safernet Brasil, a novidade está na monetização desse tipo de conteúdo de forma tão aberta e disseminada.
“A internet vai evoluindo, novas tecnologias vão sendo criadas e essas tecnologias também vão sendo utilizadas para a prática desse tipo de crime”, explica.
O Fantástico recebeu denúncias de abuso sexual contra crianças na internet, onde criminosos ganham dinheiro exibindo as vítimas em lives para pedófilos e obedecendo aos pedidos do cliente.
Nos sites indicados pelos denunciantes, usuários publicam anúncios vendendo imagens de exploração sexual infantil.
“O que eu faço é ilegal. Tenho 70 mil vídeos no meu acervo, se eu mostrar a cara me lasco”, diz a mensagem do criminoso, indicando que qualquer negociação tem que ser por meio do Telegram, um aplicativo de mensagens em que ele consegue permanecer anônimo.
“Esses agressores usam plataformas que tenham uma maior audiência para depois iniciar um diálogo privado”, explica Tavares.
Além dos vídeos, o criminoso também diz que pode abrir a câmera para supostamente mostrar uma criança. A equipe de reportagem do Fantástico encerrou a conversa e não adquiriu qualquer material.
De acordo com dados do ICMEC (International Center for Missing and Exploited Children), o Brasil é um dos países que mais compartilha material sexual de abuso infantil pela internet. Há tanto pessoas produzindo esse tipo de material quanto consumindo.
Por Fantástico