Luta e muita resistência são marcas registradas do povo Ashaninka do Rio Amônia do Acre, que em junho deste ano celebrou 32 anos de retomada do território. Durante quatro dias, de 21 a 24, a Aldeia Apiwtxa protagonizou uma verdadeira festa de saberes, cultura e partilhas ancestrais, como forma de comemorar as mais de três décadas de demarcação e homologação do território.
Uma conquista datada em junho de 1992, que desde então é celebrada com brincadeiras, partilhas, encontros, debates e diálogos importantes para a comunidade, além de intercâmbios socioculturais, que reúnem indígenas e não indígenas da região e de outras localidades, das mais diferentes idades.
Em 2024, a Apiwtxa optou por realizar um evento mais restrito à comunidade e convidados, pois as mudanças climáticas já afetam a dinâmica das aldeias indígenas. A cheia histórica do início do ano afetou consideravelmente a produção, fazendo com que grande parte do plantio de mandioca fosse perdido [a mandioca é a matéria-prima da piyarêtsi, a caiçúma [bebida tradicional do povo Ashaninka].
“Como não tinha macaxeira [mandioca], a gente comprou macaxeira para poder fazer a caiçuma. Porque a festa, sem caiçuma, a gente não faz. E então vieram algumas comunidades do lado peruano, do Juruá, da Região do Ucayali e também de Cusco. Várias comunidades estiveram aqui fazendo intercâmbio. E, do lado brasileiro, aqui a gente teve a presença dos Huni Kuin, Yawanawa, Apolima Arara e Puyanawa do Acre”, explica Wewito Piyãko, presidente da Associação Apiwtxa.
A celebração demonstra a resistência do povo Ashaninka, pontua Wewito. “Não é uma alagação que vai fazer a gente desistir. Nós tivemos coisas piores do que a alagação. Nós tivemos tentativas de extermínios, fomos discriminados. Portanto, essa festa foi para mostrar a nossa resistência, a nossa força como Ashaninka, a nossa organização como Apiwtxa, a gente tem força para superar tudo. A gente superou todas as dificuldades”, destacou.
No primeiro dia de festa, 21 de junho, marcado pelas brincadeiras esportivas com os alunos da Escola Samuel Piyãko, além da chegada dos visitantes na Apiwtxa, durante o dia. No período da noite, foi realizada a abertura oficial da celebração, com muita música puxada pelos instrumentos tradicionais e as palavras de boas vindas aos visitantes. Teve também cinema, com a apresentação do filme “Uma Aldeia Chamada Apiwtxa”, do cineasta Wewito Pyiãko.
Já no dia seguinte, 22 de junho, a festa continuou com a programação esportiva durante o dia e a noite com uma com a magia dos seres da floresta e conexão sagrada da ayahuasca, o Kamarãpi.
O penúltimo dia de celebração, 23 de junho, é um dos mais esperados, no qual os homens ashaninka se reúnem para a brincadeira da flecha e, neste momento, disputam quem flecha melhor. A programação também incluiu a brincadeira do açaí e da pintura na qual as mulheres pintam os visitantes [brincadeira tradicional ashaninka que define quem pinta melhor].
Em clima de despedida, no último dia, 24 de junho, acordamos às 4 horas, com as vozes e cantos dos parentes em celebração ao grande dia de demarcação do nosso território. Nos reunimos na casa da nossa liderança Antônio Piyãko, lá tomamos caiçuma quente, dançamos, cantamos, tocamos os nossos instrumentos musicais, teve uma rodada de conversa falando da importância desse dia tão especial, rememorando a luta de que esteve desde o início dessa grande conquista e depois tivemos fala de outros lideranças de outros povos, que também estavam presentes. Por fim, continuamos no piyarêtsi com os cantos Ashaninka.
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Por Bianca Piyãko e Maria Meirelles