Pesquisadores do Aquário Okinawa Churaumi, do município de Motobu, no Japão, criaram um sistema artificial que simula as condições do útero de tubarões. O mecanismo permitiu a incubação de embriões de tubarões-lanterna de cauda fina (Etmopterus molleri) por até 355 dias.
Os filhotes que sobreviveram cresceram de 3 a 15 centímetros, o que se aproxima do tamanho natural esperado no momento do nascimento. Os resultados foram publicados em um artigo na revista científica Frontiers in Fish Science.
O nascimento prematuro é perigoso para filhotes de tubarão da espécie. Sensíveis à alta salinidade do mar, bebês prematuros não conseguem regular os níveis de sal no sangue e, muitas vezes, sobrevivem apenas poucas horas.
O útero artificial desenvolvido pelos pesquisadores busca justamente uma alternativa para esse problema, visando, no futuro, ajudar no reforço de populações de espécies de tubarões ameaçadas de extinção.
Os tubarões possuem um sistema reprodutivo diversificado. Enquanto alguns são ovíparos, ou seja, põem ovos, outros são vivíparos, e não possuem proteção da casca, dependo da proteção física do útero. Ocasionalmente, por motivos ainda desconhecidos, os tubarões dão à luz de forma prematura.
Como destacou a revista Hakai Magazine, o Aquário Okinawa Churaumi recebe muitos filhotes prematuros órfãos, que tiveram suas mães mortas por redes de pesca. Então, um caminho natural era virar um berçário-orfanato para tubarões.
Muitos embriões acabaram sendo perdidos por complicações como um aumento inesperado na salinidade, problemas no fornecimento de oxigênio e suspeita de infecção bacteriana. Por conta disso, apenas 7 dos trinta embriões iniciais conseguiram sobreviver.
Em um segundo momento de testes, com filhotes com idade entre 60 e 80 dias, apenas 3 dos 44 resistiram. Contudo, logo após nascerem do útero artificial, esses tubarões passaram a se alimentar, e crescer. Agora, são adultos saudáveis sem diferenças aparentes em relação aos seus pares.
“Foi um trabalho muito duro por um ano. Não tivemos fins de semana”, contou Taketeru Tomita, autor do artigo, em entrevista à Hakai Magazine. “Sempre falamos sobre como esses tubarões eram como nossos próprios bebês. Eles dão muito trabalho.”
A criação do sistema pode ajudar na conservação de espécies criticamente ameaçadas de extinção, como o tubarão-lixa cinza (Carcharias taurus), conhecido por uma estratégia reprodutiva que consiste no canibalismo entre os próprios filhotes. De acordo com os cientistas, a cada 40 embriões fecundados da espécie, apenas dois conseguem nascer. Contudo, o útero artificial precisaria passar por adaptações que considerem as especificidades de cada espécie.
A ideia foi criar um grande tanque, com compartimentos menores para abrigar os embriões em desenvolvimento, em conjunto com a elaboração de um líquido filtrado por raios ultravioleta (UV) para simular o fluido uterino natural dos tubarões. A equipe instalou bombas para fazer com que o fluido circulasse no ambiente, facilitando a limpeza e reoxigenação do tanque.
Fonte: Revista Galileu